Vivemos hoje num mundo de telecomunicações. A simples carta de correio parece um pouco desactualizada, quando podemos falar instantaneamente para os antípodas. Antigamente, era muito mais difícil enviar informações à distância.
Com o advento da revolução industrial, da força motriz, dos combustíveis fósseis, apareceram meios de transporte mais rápidos que o corredor, a mula, ou o cavalo. Para mandar uma carta, era preciso encontrar portador, por vezes vários.
Era portanto muito mais caro. Muitos grandes senhores ou organizações tinham o seu próprio serviço de correios. Como a entrega era incerta, o serviço era pós-pago. O que motivava inevitavelmente um grande volume de cartas devolvidas.
O remetente tinha de garantir que o destinatário estava disposto a receber e capaz de pagar a missiva. Mesmo assim, o sistema prestava-se ainda a fraudes: alguns namorados combinavam sinais no exterior da carta, que se recusavam a pagar.
Tal como hoje se combinam toques de telemóvel, que o correspondente não atende, só para transmitir uma informação simples, um sinal, assim faziam esses namorados, manuseando a carta e lendo os sinais encriptados previamente combinados.
Por isso, Rowland Hill é considerado um grande inventor, mesmo se o volume da sua invenção, comparado com o da locomotiva a vapor, é insignificante. Este carteiro-mor inventou, pura e simplesmente, o serviço de correio pré-pago, o selo postal.
Por isso, as recentes declarações do Director Geral dos Correios, Lino Silva, «justificando» a retenção do correio por «falta de verba», são um verdadeiro atentado à memória de Sir Rowland Hill (o mérito da invenção valeu-lhe o título).
O correio, sendo um serviço pré-pago, não pode ser retido por essa razão. Os Correios expõem-se assim a um merecido processo por desvio de fundos e abuso de confiança, uma vez que os correios já receberam o preço do respectivo serviço.
P.S. Já agora, uma dúvida legítima aflora-me o espírito: a TAP transportava o correio para Lisboa à borla? O protocolo de reexpedição (ou melhor consolidação) de correio a partir de Lisboa efectuava-se sem compensações para Portugal? Sem responder a essas questões, como poderemos afirmar a independência da Guiné-Bissau perante a União Postal Universal? Independência é não estar dependente dos outros, o que implica pagar as contas. Parece-me haver aqui alguma irresponsabilidade nas declarações do DG, bem como uma «zona de sombra» nas relações bi-laterais, tal como no caso da TAP, cujo «saldo» líquido em relação à Guiné-Bissau não se percebe muito bem se é positivo ou negativo (o que, até há bem pouco tempo, parecia convir a ambas as partes). A bem da transparência, seria bem vinda uma clarificação, em ambos os casos, pois parecem (ou pareciam) existir vários tipos de silêncios comprometedores, que podem contribuir para presumir a manutenção de obscuros interesses cruzados.
Ver
artigo do JN..