Angola parece estar a ser dirigida por um Directório da guarda pretoriana de José Eduardo dos Santos, em resposta a uma ausência prolongada do Presidente. O «modelo» político do culto da personalidade tende forçosamente a ser colocado em causa face à certeza da condição humana do seu objecto (e sua inevitável mortalidade).
Parece ter-se criado, neste «folhetim» macabro, um ambiente de cumplicidade, por parte de muitos países (com destaque para Portugal) quanto à manutenção no poder das «relíquias» da repressão, «a bem» de uma pretensa estabilidade do regime, destinada a evitar «convulsões» que coloquem em causa a actividade económica.
A oposição parece disposta a abandonar o Parlamento em bloco, deixando o MPLA a falar sozinho. Por outro lado, o Directório parece preparar-se para ignorar o MPLA na questão da sucessão. A mensagem de condolências às famílias das vítimas do acidente de aviação, por parte do Presidente, soa um pouco a falso e hipócrita.
A menos que na altura estivesse inconsciente, não se ouviu qualquer mensagem de condolências à vítima dos excessos de zelo dos seus serviços de segurança pessoais. Não se tendo pronunciado sobre mortes que poderiam ter sido evitadas, pelas quais é, em última instância, responsável, deveria ter mantido o silêncio externo.
Essa mensagem aparenta mais uma tentativa para ganhar tempo, para fazer frente à pressão das notícias que ultimamente sugerem um estado terminal. A sucessão arrisca-se a configurar uma partilha necrófaga dos despojos de poder; será ilegítima, de pouca duração e mesmo perigosa, se não envolver todos os angolanos.
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