Desde 12 de Abril do ano passado que, volta não volta, o kamarada kassete Karlos Lopes Pereira, jornalista do Avante, tem publicado umas notícias inteiramente parciais sobre a situação na Guiné-Bissau, desinformando sem escrúpulos os já parcos leitores do seu boletim.
Desta vez, a pretexto (quinze dias antecipado, para coincidir com a Festa do «Avante», quando tem mais uns tantos tansos a ler as suas bacoradas) da comemoração das quatro décadas da declaração unilateral da independência, de 24 de Setembro de 1973...
Começa logo pelo sub-título: «os patriotas da Guiné-Bissau vão comemorar (...) empenhados em libertar-se da ditadura militar e retomar os caminhos do progresso». Retomar os caminhos do progresso? Qual progresso? Aquele que promoveu o PAIGC?
Continua pela mentira «agentes dos colonialistas portugueses assassinaram Amílcar Cabral»... Essa «notícia» é de 1973, está um pouco desactualizado em relação à verdade histórica. Recomenda-se o longo documentário que passou na RTP sobre o assunto.
Que o PCP puxe a brasa à sua sardinha, já se espera «A longa e heróica resistência antifascista portuguesa e o descontentamento provocado pelas guerras coloniais conduzem ao golpe militar de Abril, seguido pela Revolução dos Cravos». Causa primeira?
Sim, sim. Não fosse a derrota militar na Guiné-Bissau, a «longa» resistência teria continuado por mais outras tantas décadas... Não tiveram qualquer peso no assunto; tentaram depois manipular a revolução, até lhes porem o freio, noutro dia 25, este de Novembro de 1975.
A ultra-ortodoxia do Partido Comunista é mais aguda que a da Igreja Católica: continuar a apoiar acriticamente todos os «PCs», independentemente das suas piores derivas. Já em 1998, nunca deixaram de apoiar Nino, mesmo contra todas as evidências de apoio popular à Junta.
Lançar apelos bélicos aos «patriotas» guineenses? Para lutarem contra «generais narco-traficantes»? Não estarão a simplificar um pouco a situação? Os leitores do Avante não são propriamente conhecidos pelo seu espírito crítico, mas mesmo assim...
Não deixa, no entanto, de afirmar a identidade do Partido Comunista Português, pouco dado a internacionalismos e sempre claramente nacionalista: mostra-se preocupado com a integração da Guiné-Bissau na sub-região, «de forte influência neocolonial francesa».
Termina afirmando que «a Guiné-Bissau independente está em perigo». Nacionalistas como são, lá no Partido, poderiam colocar-se na pele dos guineenses: será que continuariam a achar que decapitar a classe castrense e deixar invadir o seu próprio país é solução que se preze?
AC/AC-Álvaro Cunha/Amílcar Cabral
ResponderEliminarÉ difícil desligar os acontecimentos, as pessoas o bom hoje, que é mau amanhã e vice-versa.
Nunca leio o AVANTE sei de cor e com antecedência tudo o que possam escrever, ou não fosse K7.
Passei 13 anos (61-74) a ouvir, Rádio Moscovo, Rádio Tirana, e rádio Argel.
Mas 7ze nunca pode desligar duas figuras fundamentais para a existência da Guiné Bissau nascida do 24 de Setembro de 1973: AC/AC.
Álvaro Cunhal/Amílcar Cabral.
Historicamente estas duas figuras, ou seja o PAIGC/PCP serão para sempre, os grandes padrinhos da Guiné Bissau.
Sem um e o outro não haveria Cuba nem Rússia inteiramente à disposição estratégica de um país geograficamente tão diminuto.
E sem essa conjugação de esforços, talvez Portugal sozinho não conseguisse convencer os guineenses e os vizinhos que esse território não se ia transformar numa qualquer Casamance.
O que aconteceu a Gôa, a Timor pode vir a acontecer algo semelhante a Guiné Bissau.
E esse perigo é tão latente exteriormente como entre os guineenses.
Se há 40 anos poucos guineenses tinham qualquer sentimento pátrio, hoje muitos já "venderam a alma ao diabo".
Eu não sou leitor do Avante, mas se 7ze leu só isso, é porque esse jornal é mais diplomático que eu.
Para terminar quero dizer que em 1998 foi por um triz que a Guiné Bissau não terminou como país independente.
Se é que a Guiné Bissau após 1980 se pode considerar um país independente (infelizmente).
A história da Guiné Bissau ficará sempre ligada ao PCP, para o bem e para o mal.
Antes foi bom? agora é mau?
cumprimentos
Caro retornado
ResponderEliminarNão é inteiramente verdade: talvez devesse ler a biografia de Julião Soares sobre Amílcar Cabral. No fim do curso e no período que passou pela Escola Agrícola de Santarém, após ter concluído Agronomia, teve contactos com o PCP, mas levou «sopa», pois o Partido não confiava senão na sua própria «resistência» e não na luta de emancipação dos povos em relação ao sistema colonial: pois se lá não existia proletariado, apenas campesinato, estavam um estádio «atrasados» no caminho do historicamente «determinado». Ironia do destino... a sua resistência não deu em nada e foi aquele estudante, que tomaram por insignificante, que veio a provocar a derrocada do regime.
«A pedra desprezada pelos construtores tornou-se pedra angular» (Mt 21,42)
Foi a simpatia, inteligência e consistência de Amílcar Cabral que deu confiança aos russos (na altura, soviéticos), armas e equipamento de vanguarda com munições sem fim ao PAIGC...
Os comunistas portugueses foram apenas aproveitados por Neto e Amilcar e outros.
ResponderEliminarO que se passou de "Minho a Timor", foi uma luta em que os povos português os povos das ex-colónias, não passámos de um joguete de uma guerra que outros jogavam.
E a juntar ao AC/AC, posso juntar AS, António Salazar.
Foram muitas as pedras angulares a definir o futuro destes povos, e destas fronteiras coloniais.
Nunca os africanos, (Pedro Pires, Cabral, Vasco Cabral, Agostinho Neto, etc.) e muitos outros portugueses foram verdadeiramente comunistas, mas todos aproveitaram o ambiente anti-salazarista para atingir os seus fins anti-colonialistas.
E no caso da Guiné Bissau, teve um efeito simultâneo o aproveitamento inteligentíssimo o uso de Cuba e Rússia tanto para se impôr a Portugal, como para a Guiné ser reconhecida internacionalmente e principalmente pelos vizinhos.
A própria Angola chegou a ser invadida por Africa do Sul e Bissau a ser ocupada pelo Senegal em 1998, aconteceu com Timor e Gôa e com o "Portugalinho" que hoje existe nem as Ilhas desertas irão sobreviver.
Anda tudo ligado e Amilcar sabia dos perigos.