domingo, 10 de fevereiro de 2013
Aero Bio Grafo I - Winston Churchill
Vou estar todas as Quintas de Fevereiro a Maio, no Xantarim, a partir das 22h30, para uma dupla exposição: uma exposição oral sobre a vida de figuras célebres acompanhadas da exposição visual do respectivo aerógrafo. Por isso dei este duplo título à «performance». Isto acompanhado de um sorteio, no qual o primeiro prémio é um magnífico objecto filatélico de colecção (sobrescrito de primeiro dia), o segundo uma tela (16x16cm), ambos alusivos ao personagem homenageado, e o terceiro uma bebida de pressão. Colocarei depois aqui no blog um breve resumo do personagem da semana. Julgo que há fotografias na página do Xantarim no FaceBook. Todos os meses terão cartaz próprio. Este mês de Fevereiro, ainda em cartaz:
14 Agostinho da Silva
21 Amílcar Cabral
28 Nelson Mandela
O primeiro a ser apresentado, Quinta-Feira 7 de Fevereiro, foi Sir Winston Churchill. Escolhi-o pela sua rebeldia e tenacidade: mesmo criado num ambiente conservador victoriano, nunca deixou de pensar pela sua própria cabeça; depois de ser várias vezes gozado como «gago», conseguiu não só dominar o seu defeito, como ainda se tornou num orador inflamado e carismático.
Nascido a 30 de Novembro de 1874, neto do 7º Duque de Marlboro(ugh), o pequeno Winston nasceu prematuro de sete meses, no seio de uma família aristocrática. O seu pai chegou a ser Ministro das Finanças, casou com a filha de um milionário americano e o herdeiro recebeu uma boa educação britânica: distante. Raramente convivia com os pais, foi Elizabete Everest, a governanta a pessoa que mais o marcou, servindo-lhe de mãe adoptiva, contadora de histórias, depois enfermeira (quando esta morreu, Churchill largou tudo para passar uma semana à sua cabeceira).
Descrito como irreverente e rebelde, foi várias vezes sujeito a castigos corporais por maus resultados escolares. Com uma paixão pelas fardas que lhe vinha desde tenra idade, só à terceira tentativa consegue entrar para a academia militar, escolhendo Cavalaria porque esta arma não exigia Matemática. A sua paixão por assuntos militares leva-o a Cuba, com pouco mais de vinte anos, para estudar como os espanhóis estavam a combater as guerrilhas locais. Aí adquiriu o gosto pelos charutos, que haveria de o acompanhar pelo resto da sua vida (ao mesmo título que o whisky).
Logo no ano seguinte, em 1896, está nas fronteiras do Império, participa na batalha de Malakand e começa a escrever em periódicos sobre as suas experiências militares, ganhando alguma notoriedade pública. Rapidamente compreende que o seu magro salário de oficial não lhe permitia manter o estilo de vida sumptuário a que estava habituado, passando a considerar cada vez mais a escrita, tanto como correspondente de guerra, como de extensos volumes de memórias, como uma importante fonte de rendimentos. Sempre ansioso pela próxima guerra, em 1898 está na «reconquista» do Sudão, participando na batalha de Omdurman, onde ocorreu a última carga relevante de cavalaria do exército inglês.
Em finais de 1899, quando rebenta a segunda guerra dos Boers, e os Estados Livres do Transvaal e Orange se opõem ao Império Britânico, embarca rapidamente para a África do Sul, com o chorudo ordenado (para a época) de correspondente de guerra de 250£ mensais. Aceita uma missão de reconhecimento num comboio blindado, mas este é interceptado e assaltado pelo inimigo, sendo feito prisioneiro e enviado para um campo em Pretória, do qual consegue evadir-se, fazendo quase 500 Km até Lourenço Marques.
Depois de uma grande «tournée» por Inglaterra, Canadá e Estados Unidos, contando as suas histórias de guerra, a primeira década do século foi de uma carreira política de sucesso, sendo Presidente da Câmara de Comércio e Ministro das Colónias. Para a história ficou o seu acto de «virar a casaca» em pleno hemiciclo: demasiado independente para deixar de condenar o seu próprio partido, atravessou a Câmara e foi sentar-se num lugar vago do lado oposto.
Em 1911, afasta-se das querelas partidárias e é nomeado Primeiro Lorde do Almirantado, cargo mais importante na então toda poderosa Marinha inglesa. Aí desempenha um papel visionário, ao antecipar a futura utilidade na guerra de novas invenções como os tanques e os aviões, para os quais financia projectos de investigação e desenvolvimento. Quando estala a Primeira Guerra Mundial propõe uma polémica operação contra o Império Otomano, no sentido de controlar as portas do Bósforo e o acesso ao Mar Negro, para garantir o abastecimento da Rússia.
Aquela que ficaria conhecida como a campanha de Gallipoli, começada a 25 de Abril de 1915, viria a revelar-se um inteiro fracasso militar. A ideia era utilizar barcos de guerra ingleses obsoletos (se utilizados contra os alemães), para uma operação de desembarque nessa península, com o objectivo de a ocupar rapidamente. Das forças envolvidas, apenas os comandos eram ingleses, o restante eram Neo Zelandeses, Australianos, Canadianos, Sul Africanos e Indianos. Os combates foram por vezes mortais a 100% do efectivo, mas as testas de ponte nunca conseguiram sair das praias.
Nos países da Oceania, o dia 25 de Abril é feriado nacional, marcando o início de uma certa consciência nacional. Do lado oposto, na Turquia, a alma da resistência foi aquele que viria a reformar o país, virando-o definitivamente para o Ocidente: aqui começou a sua legitimidade como governante, nas vitórias que obteve. E assim se consumou outra morte política de Churchill: afastado do cargo de Primeiro Lorde, pede transferência para a frente de combate ocidental, num posto modesto, com o objectivo, segundo escreveu à esposa, de recuperar a sua reputação.
Em 1919 é nomeado Secretário de Estado da Guerra, posto no qual tentou, sem sucesso, enviar forças para acabar com a experiência soviética. Em 1924, como Ministro das Finanças, impõe um retorno ao padrão-ouro da Libra, contra a opinião de muitos economistas, como o famoso Keynes; o próprio Churchill viria mais tarde a reconhecer ter sido esse o seu maior erro político. Na crise deflaccionista que se seguiu, o aumento da conflitualidade social conduziu a uma Greve Geral, e quando os mineiros entraram em greve, Churchill, com o seu humor negro e um ar expedito, antes de se demitir, perguntou se não poderia utilizar metralhadoras...
Inicia assim uma nova travessia do deserto, que duraria toda a década de 30, dedicando-se, como sempre, a defender o império onde o sentia ameaçado. Foi o caso na Índia, onde criou uma Liga para a Defesa do Império para se opor a Ghandi, a quem chamava de faquir semi-nu. A partir de 1935, começa a avisar do perigo que representava o rearmamento da Alemanha e as pretensões hegemónicas de Hitler, propondo um rearmamento intensivo, no que foi acusado por muitos de belicista. Em finais de 1939, logo após a declaração de guerra, no entanto, acaba a sua travessia do deserto, recuperando o título de Primeiro Lorde do Almirantado e entrando para o Gabinete de Guerra.
No próprio dia 10 de Maio de1940, no qual estala a guerra relâmpago que conduziria em poucos dias o General Rommel às portas de Paris, torna-se claro, para o Rei, que o pacifista Chamberlain não era o mais indicado para estar à frente de um país em guerra e ameaçado: o nome de Churchill ocorre naturalmente. O seu primeiro discurso, na rádio, como Primeiro-Ministro é o famoso «Nada mais tenho para vos oferecer, senão sangue, suor e lágrimas», logo seguido de um outro, o electrizante «Lutaremos praia por praia, rua por rua, casa por casa, mas nunca nos renderemos».
Já no fim da Guerra, reparte a Europa com Roosevelt e Estaline. Mas alguém disse sobre Churchill que era alguém óptimo para os tempos de guerra, mas que, em tempos de paz, o melhor que os ingleses tinham a fazer era livrar-se dele o mais rapidamente possível, e foi precisamente o que aconteceu. Todas as suas campanhas públicas a partir daí se dedicaram a tentar contrariar o declínio do Império Britânico, então já inexorável.. Foi ainda Primeiro-Ministro de 1951 a 1955, vindo a morrer dez anos depois, em 1965, com 90 anos.
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