Calma apenas superficial.
A ANP declarou-se soberana, reconheceu a alteração da ordem de 12 de Abril, legitimou o instrumento «legal» utilizado: este pacto com os alegados «golpistas» vem reduzir ainda mais o espaço político de manobra do pseudo-governo no exílio.
Numa curiosa conjuntura, em que os militares golpistas, ao contrário de um golpe de estado convencional, NÃO querem o poder, nota-se o mal-estar entre os «políticos»: o problema reside no próprio PODER e como aceder a ele; quem tem legitimidade?
O problema não está no Chefe de Estado Maior, nem sequer em quem é acusado (justa ou injustamente, agora não interessa) de o querer tramar. Para o bem e para o mal, representa o último verdadeiro pilar da nação, as Forças Armadas.
Fosse a classe política, na Guiné, tão boa como a castrense. Essencialmente, o ajuste de contas que parece preparar-se não faz sentido, arriscando-se a traumatizar o pouco que sobra da sociedade guineense... Aprofundar a ferida pode ser sem remédio.
Não será chegada a hora de uma verdadeira reconciliação, de se sentar toda a gente à mesma mesa? Há que lançar uma vasta amnistia, ultrapassar o passado, aceitar um novo começo, novas regras do jogo! A Guiné já pagou um preço exorbitante pela diversidade!
Não é hora para deixar encalhar a canoa. É preciso refundar a Guiné-Bissau, redesenhar o Estado, reencontrar uma legitimidade nacional suficiente que se sobreponha aos interesses particulares e razões étnicas, um PODER também social e economicamente competente e eficiente.
É mau princípio remeter essa decisão para eleições, esperando que o mito europeu da democracia se revele adequado (depois de múltiplas provas em contrário). Esperemos antes que surja uma liderança política forte, que prometa e dê garantias de paz, progresso e orgulho.
Todos fazem parte da solução (até Cadogo, porque não?), felupes, balantas, fulas, mandingas, gentios, cristãos, de fato e gravata ou de tanga, vermelhos, verdadeiros filhos do chão ou não (e até tugas!): os cabelos de todos estão contados, nem um deve cair por terra!
Chega de ver a identidade guineense ofendida, humilhada. Há que varrer a casa, não tolerar mais os erros do passado. E para varrer a casa, começa-se pelo sótão: é pelas mentalidades (pelo sentimento da rua, pela opinião dos mais velhos, pelo boato, pelo rumor, pelos blogues).
Chega de «coitadeza», desse morno sentimento de inferioridade legado pela decadência tuga. A grande diversidade guineense não é um problema, é um desafio. Não deve ser encarada como uma ameaça, mas como uma oportunidade! O mau exemplo vem do Mundo.
Sim, que infelizmente, é esse o caminho, sem regras, cada vez mais «tribal» e violento, a que a falência do liberalismo desenfreado (já sem oposição depois da queda do Muro) nos conduz. Mas estarão os guineenses destinados a servir de paradigma aos piores defeitos do mundo?
A alternativa poderia ser criar uma verdadeira ruptura epistemológica, dar um exemplo de convivência e tolerância (de que o mundo tanto precisa), mostrando como a diferença pode ser enriquecedora: pela cultura podemos aprender outras formas de sentir as coisas.
Reconhecer o outro na plenitude da sua diferença, não nos diminui em nada, só nos engrandece. Um país que quase não se vê no mapa (não olhemos durante a maré alta), abrigar um mosaico humano tão grande é uma verdadeira dádiva de Deus em glória.
Longa vida à Guiné-Bissau e a todos os seus filhos
As Nações Unidas podiam fazer da Guiné-Bissau um modelo experimental, devido à sua exiguidade territorial, mas de grande variedade étnica, para encontrar uma solução para os diversos paises africanos que não se entendem.
ResponderEliminarMas era preciso dinheiro e gente mais séria do que as Nações Unidas usaram em diversos palcos africanos, até hoje.
Caso do Congo Ruanda e Burundi e a própria Guiné, que foram vítima de "turistas" incompetentes, irresponsáveis ONUSINOS.
Viam a merda e viravam o nariz para o lado, durante anos e anos.
Ora se esses paises que não têm padrinho com força para impôr o respeito, (os coitados de Portugal e Bélgica)então que seja a madrinha ONU, a responsabilizar-se, porque muita responsabilidade é directamente dessa organização.
O ONU morreu (e foi para o inferno).
ResponderEliminarA este propósito, veja-se o já aqui escrito, 12 dias depois do 12 Abril 12
http://7ze.blogspot.pt/2012/04/lamentavel-coro-de-meninos.html
Que lá arda. Quem espera por ela, desespera, sem dúvidas.