sexta-feira, 22 de junho de 2012

Erro crasso do Regime angolano

Com o jogo de Portugal pela frente, passei o dia a mastigar os acontecimentos de quarta-feira em Luanda. O feitiço (ou «fetiche»?) democrático voltou-se contra José Eduardo dos Santos. Parece-me que é caso para nos questionarmos, à luz dos acontecimentos: quem são os arruaceiros? De um lado, como documentam as imagens colhidas, manifestantes pacíficos, tranquilos, dignos, dando a cara e dispostos a negociar... do outro uma força bruta e autista, apostada numa repressão cega, com cavalos, cães, densidade inacreditável de gás lacrimogéneo, tiros. Contra antigos combatentes? Parece desapropriado... Espacamento de um general? Dois mortos na morgue do Hospital Josina Machel?

As declarações oficiais, através do Governo da Província de Luanda mas reflectindo indicações do Estado Maior das Forças Armadas Angolanas, não poderiam ter sido mais demagógicas: acusando os manifestantes de arruaceiros (até uma teoria da conspiração apresentam, vendo o «fantasma de uma mão estrangeira»), acusa-os de terem promovido «uma série de desacatos em flagrante violação à lei e à ordem, sob pretexto de uma suposta reivindicação de pensão». Ora o Comandante desta «estrutura», o responsável máximo, é o chefe de estado, José Eduardo dos Santos. Está o caldo entornado. Tal como com o Ministro do Chicote em Bissau, as coisas foram longe demais, e já não podem voltar para trás.

Com todas as vias para o diálogo cortadas de forma autista, o regime mostra-se pouco preparado para resolver de forma pacífica e sem recurso a uma violência desproporcionada a premente questão dos antigos combatentes, que lhe está a ser legitimamente colocada, após múltiplas e continuadas (mas infrutíferas) diligências. Em Bissau, os Antigos Combatentes foram chamados ao Parlamento, para o Comandante Injai se justificar dos seus actos e foram tratados com o máximo respeito... Em Luanda, são espancados e intoxicados em pleno centro da cidade. É reconhecível o mesmo «estilo» arrogante que o «queimou» em Bissau: «quero, posso (pagar?) e mando».  Então respeite os compromissos.

E a dignidade das pessoas que se vê em todos os rostos de todos os vídeos que vi? A desmedida ambição em Bissau, quebrou-o, senhor Presidente José Eduardo dos Santos, veio mostrar que não é «invencível» (porque acusa os guineenses de terem criado esse «mito» mas continua a aferir-se a si, que tem menos razão para isso, por um parecido?). Está perante um beco sem saída; é do coração, a bem do povo irmão de Angola, que me permito sugerir-lhe que tenha a humildade de dar a cara pessoalmente (e algum da carteira), evitando assim, no momento certo, mais violência desnecessária. Não errarei muito se disser que, desde o fim da guerra, este é decerto o momento mais crítico da sua carreira.

Encare de outra forma a redistribuição da riqueza gerada do ventre dessa terra, permita e patrocine mesmo o crescimento de novas elites, baseadas não no medo e no seguidismo, mas no mérito, na concorrência leal, no confronto construtivo de opiniões. A paz e a centralização que conseguiu após tempos conturbados, a sua própria estabilidade no poder, foi decerto um grande contributo para o futuro de Angola. No entanto, não ponha em causa todos esses benefícios, agarrando-se a antigos métodos: parece-me louvável a legítima «vontade» que vinha apregoando de democratizar o seu regime; está na altura de mostrar a sua face humana, ou então, e espero que não, terá de deixar cair a máscara.

Excelentíssimo Senhor Presidente de Angola: as eleições serão o seu cartão de visita perante a Comunidade Internacional. Não vai decerto querer estragar a «fotografia» por «dá cá aquela palha». É nestes momentos que se vêem os homens. Esperemos que as restantes obrigações de estado (como a recepção a Primeiros-Ministros depostos) não lhe desviem as atenções do essencial e do bem estar do seu povo. De outra forma, se a coisa lhe vier a correr mal, e atendendo às suas raízes familiares, julgo que a Guiné-Bissau estará sempre de braços abertos para o receber.  

9 comentários:

  1. Meu Caro, você está estupidamente enganado, ou mente consciente e deliberadamente. "Em Bissau os antigos combatentes foram chamados e tratados com respeito pelo Antonio Injai!?...". Você entende o crioulo da Guiné-Bissau ???...

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    1. Se ele nao entende, eu entendo !
      Nao foram maltratado e nem foram assacinados.!
      Em Bissau foram confrontados com a verdade!
      Respeitam o povo! Se faz favor.

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  2. cadogo filho é pior filho desta terra,ele assasinou tudo que tinha para assasinar ele vendeu o pais os estrageiros angolanos ganbianos e portugal e outros para o bewlo prager,ele é um bandido com cabacete de paigc.por hoge fico cá.

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  3. Eu sou Guineese origem e vive em Bissau e estava presenete a quando de encontro de General Injai com os Antigos Combatentes e falou simplesmente a verdade aqueles que não são a Antigos Combatentes mais que estãocriar confussão junto o assasino CADOGO.

    Todos nos aqui em Guiné conhecemos e tem muitas pessoas qui hoje dezem ser AC, mais que na altura ficavam atraz das mininas fazer pedofilias e intrigas.

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  4. Bom-dia a todos, obrigado aos anónimos que saíram em minha defesa. Quanto ao não perceber crioulo, embora não seja completamente verdade, pois lá vou apanhando umas coisas (sobretudo quando escrito - bem sei que é um contra-senso), mas pelo menos faço um esforço, pedi ao meu amigo Mamadu que me comprasse o dicionário crioulo - português (do padre italiano), que me mandou de Bissau, gosto de ouvir as músicas guineenses e tentar perceber a letra, vou habituando o ouvido... E soa-me como música. De qualquer forma, que tem isso a ver com o assunto? Os AC foram convidados para o Parlamento em Bissau, em Luanda estão mesmo dispostos a alvejá-los à frente do Palácio presidencial.

    Quanto ao estúpido, enfim, é uma opinião; quanto ao enganado, lamento desenganá-lo, mas não me parece. Ser acusado de mentir, pronto, ainda poderia tolerar; agora «consciente e deliberadamente»? Não faz bem o meu género. Faço os possíveis por me aproximar do meu sentimento de verdade; mesmo se assumo claramente o ponto de vista «parcial», ou a tomada de posição por um campo.

    Emito sim opiniões, que só me obrigam a mim. E é isso que vou fazer quanto ao primeiro comentário, que não vou apagar (que era o que merecia pelo seu carácter básico, quase insultuoso e nada contributivo), para memória: na minha humilde opinião, quem deliberada e conscientemente «orquestra» este tipo de comentários e respostas é que deve enfiar essa carapuça.

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  5. acho o sr.jornalista so faz a comparaçao o comportamento entre 2 paìses a releçao AC.penso q ele tem razao,é mesmo comportamento q o C.J.G queria implantar na guine,ele sem perceber q os guineense ja estao acordado e estavam atentos a sua manobra.
    obrigado.

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  6. Sou o primeiro anomimo a comentar o seu texto. Pela sua expressão, percebe-se que é uma pessoa de boa indole e os gostos que revelou pela cultura guineense me fez mudar um pouco a impressão que, sobre si, tive à primeira vista. Contudo devo prevenir-lhe a não se deixar influenciar por guineenses desqualificados e mal intencionados. A minha reação ao seu texto veio do facto de que naquela sala esteve muito longe o tratamento "respeitoso" aos AC. Eles foram insultados, ameaçados e acusados de coisas sem fundamentos. O gesto de chamar à sala pode parecer uma coisa respeitosa, mas não foram tratados com respeito naquela sala. A pergunta se o Sr. entende o crioulo ou não é porque há diferença entre alguém traduzir para o Sr. e o Sr. ouvir e entender da fonte primária. Os guineense que sairam a sua defesa fizeram-no fora do contexo, alegando crimes de sangue por parte do filho de uns ou que o general falou a verdade!... Verdade ou não, isso é a critério de cada um. Porém os AC não foram tratados de forma "respeitosa", e este é o contexto.

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  7. Meu caro Anonimo, achu que estas a perder tempo com desnecessarios, copmprtamento de CEMGFA para com AC, alguem pode pensar que foi com respeito, é normal, pq até alguns filhos tem comportamentos social que caracteriza normal, qdo para alguns não é, isso depende da nivel socio cultural e da educação de base.
    Só que, o CEMGFA, não tem nada para falar do PAIGC e das Ideias de Cabral afrente MAnuel S. Costa, Carmem Pereira, Teodora I Gomes, e muito mais presentes na sala.
    Enfim é o País que temos, veja só alguns que apoiaram golpe de estado a exigir respeito a povo. KARAÇA KA TEM RI DUR....
    BANTABA

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  8. Caro anónimo nº1

    Também eu mudei um pouco de opinião acerca de si, após ter lido o seu segundo comentário; também me parece uma pessoa bem intencionada. Quando o escrevi, estava a pensar em Mbana Cabra, em vários textos que tive oportunidade de ler acerca dessa convocação dos AC à ANP, referindo-o com simpatia e respeito. De qualquer forma, acho que, no contexto em que o escrevi, por comparação com Angola (onde há ACs que reclamam não receber qualquer subsídio desde 1992!), continua a valer no seu espírito: pelo menos em Bissau não são dispersos à bastonada e gás lacrimogéneo; a comparação é favorável à Guiné.
    Paz

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