Brasil propõe nova Ordem Mundial
O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, forte da experiência pela qual passou na Guiné, apresentou uma proposta defendendo novos modelos para a gestão internacional de conflitos armados, baseados no patriotismo e no diálogo, cujo conteúdo se aplica perfeitamente à situação na Síria, tal como aliás, se teria aplicado na Líbia, evitando assim a desgraça que todos vimos, o martírio de Sirte, guerra, violência e sofrimento na sua expressão máxima (e ainda tendo como efeito o agravamento das circunstâncias políticas, tal como no Iraque, Afeganistão, etc).
As razões de António Patriota parecem legítimas e levam-nos a questionarmos: devemos assistir passivamente à imposição de uma nova Ordem
Mundial baseada na agressão, no medo e num estado de guerra permanente? Não haverá uma responsabilidade ao proteger, baseada numa simples premissa: de que a cura não pode ser pior que o mal? Já São Tomás de Aquino, ao defender o direito à revolta, afirmava que uma das condições para «avançar» era a de não causar na sociedade uma perturbação maior do que aquela que se pretende remediar... Mas como aqui chegámos? Como se deu o colapso da ONU?
Com a queda do muro de Berlim gerou-se uma dinâmica de colapso
sistémico do império soviético; os Estados Unidos ficavam assim
vencedores da Guerra Fria, assumindo-se como única potência mundial.
Nesse
mesmo ano, o Iraque invadiu o Kuwait; a comunidade internacional
condenou a agressão numa atitude firme. Depois do sucesso da operação
Tempestade no Deserto, quando alguns generais americanos sugeriram a
destruição do exército iraquiano em retirada, o bom-senso prevaleceu na
Administração Norte-Americana: as suas tropas pararam na fronteira do
Iraque. O objectivo não era a mudança de regime no Iraque mas a
reposição da Ordem Internacional. O entendimento era de que a derrota do
ditador provocaria uma luta fratricida pelo poder, senão mesmo uma
guerra civil e a fragmentação do Iraque, sendo portanto contrária à
ordem mundial e à estabilidade da zona.
A partir desta atitude,
revelando comedimento e equilíbrio, a tendência parece ter sido para os
Estados Unidos assumirem um papel cada vez mais prepotente e arrogante.
Já sem rival à altura, as suas decisões deixaram de ser negociadas,
passando a ser cada vez mais impostas, recorrendo para isso ao seu poder
financeiro, diplomático e militar. Esta situação criou uma animosidade e
uma aversão crescentes, junto de identidades que se julgavam
severamente humilhadas, como a muçulmana em particular.
A
11 de Setembro de 2001, os Estados Unidos, que nunca tinham sido
atingidos no seu território, sofreram um devastador atentado terrorista
conduzido por uma pequena célula, o qual superou, na escala do «orgulho»
ferido americano, o de Pearl Harbor, sessenta anos antes. Este facto
condicionou fortemente esta última década, com uma forte paranóia
securitária a tomar conta não só dos aeroportos, mas também das relações
internacionais, com a «invenção» pelos Estados Unidos de sucessivos
inimigos, continuando assim a alimentar os ciclos do ódio, da vingança e
do medo, sob a bandeira genérica de «Guerra ao Terror».
A hipocrisia parece ter-se
tornado senhora do palco internacional. Teme-se que a Síria seja um rastilho e são desesperadamente necessárias ideias novas, novos paradigmas diplomáticos e legais que evitem o pior... Deveria ser criada uma comissão para propor António Patriota para Prémio Nobel da Paz.
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