Na sequência dos acontecimentos que se desenrolam na Guiné-Bissau, foi preso o jornalista Aly Silva, do Ditadura do Consenso. É sintomático que a última mensagem no seu blogue seja o desfazer da estranheza provocada pelo «suposto» anonimato assumido pelos golpistas. No entanto, parece-me um gesto de fraqueza, senão mesmo um tiro no pé, prender o Aly, por mais irritante que a sua irreverência se possa pontualmente revelar. Não deixava de ser uma ponte... E a Guiné vai precisar!
Para além da auto-proclamada legitimidade patriótica que assiste aos militares conducentes do caso, que nem é novidade, tratando-se apenas de uma reedição, passados um ano, um mês, e treze dias, hoje, sexta-feira, dia 13, do pseudo «sequestro» do PM, que, sem violência, foi convidado para uma reunião informal não agendada... há agora uma questão nova e premente, à margem do reequipamento das Forças Armadas com material bélico moderno, que consiste na retenção de um quarto de milhar de reféns (da situação) estrangeiros (quer dizer, PALOP's).
Dando continuação do trabalho do Aly, a informação mais valiosa em Bissau, neste momento, prende-se com a logística da MISSANG: têm comida para quantos dias? É muita gente a comer... As manobras de intimidação de José Eduardo dos Santos, com a profunda amizade que descobriu recentemente pela Guiné Conakry, ou a pressão sobre Portugal e o Brasil para conseguir salvar os seus «bonecos», apenas dão conta do seu desespero perante o beco sem saída em que se colocou, ao desafiar, imprudentemente, um país cuja soberania foi conquistada de forma mais agreste e decidida que a sua (à qual, aliás, deve a sua; e será mesmo «sua»?).
Como sugeria (baixinho) o Aly, há poucos dias, deseja o senhor Presidente da República de Angola, ver chegar os seus concidadãos em sacos de plástico pretos? Para além dos méritos que se arroga, como «polícia» de África, a sua experiência deveria ter-lhe ensinado em não entrar em guerras estúpidas, parvas e, pior que tudo, perdidas. Agora é tarde para chorar sobre o leite derramado, e terá de negociar com a solução que se cozinhar em Bissau. Não parece inteligente nem adequado tentar resgatar pela força os homens que estão no terreno... pois a única coisa que se encontra em jogo, neste momento, é a forma como vão sair.
Talvez valesse a pena publicar as famosas fotos que os franceses pediram que nunca fossem publicadas, que mostram, no dia 7 de Maio de 1999, as duas dezenas de tropas especiais francesas a saírem assustadas do Centro Cultural, de mãos no ar e pânico no olhar... Lembro-me bem dessa manhã, quando a chefe dos Serviços Secretos, à época, Anne-Marie Gazeau, violou todos os protocolos, e quando perdeu o contacto com os seus «palhaços», encheu a France Press com pedidos de socorro a todos os franceses na zona... Associados à odiosa invasão senegalesa, deu-se-lhes 5 minutos para saírem; não havendo resposta, um simples RPG, largado ao nível do solo, foi o suficiente para os fazer mudar de ideias. Faz-me lembrar a música do 7 semanas e meia: «You can keep your hat on»: neste caso, podem conservar os boxers...
Já quanto ao material bélico, está assumida a confiscação, uma vez que a sua entrada no país passou a ser considerada ilegal: coloque-se-lhe o carimbo «Confiscado na Alfândega». É nesse sentido que endereço um veemente pedido aos actuais detentores da força na Guiné-Bissau: se o que pretendem é uma dignificação da Guiné-Bissau, o Aly é uma peça essencial nesse tabuleiro, que conquistou por mérito (e destemor) próprio, mesmo assumindo a sua irreverente independência; para além do opróbrio a que querem injustamente condenar a Guiné em todos os factos já consumados, não vale a pena acrescentar-lhe atentados à liberdade de imprensa; mais vale, em todos os sentidos que consigo discernir, deixá-lo fazer o trabalho dele. Será pela visibilidade que estava a adquirir (terá sido o directo do Aly para a TVI, à hora do almoço, a gota que fez transbordar o copo)?
Mas porquê sempre a mesma mentalidade traduzida no provérbio do «Cacre na kalabasse»? Vamos deixar brilhar os guineenses que são bons no seu trabalho (reconhecidamente)... como decerto o são todos os que se preocupam com a identidade nacional e condenam a agressão e arrogância externa, traduzidos numa missão estrangeira instrumentalizada e prepotente no próprio território: quem melhor que os militares para sentirem a gravidade da ofensa? Talvez o que propõem não seja suficiente para assegurar uma continuidade política do Estado, mas, de momento, constituem uma situação de facto, que terá de ser encarada com mais seriedade pela comunidade internacional, sem estes arrufos inconsequentes de quem não vai a lado nenhum... Ao senhor Ministro da Defesa de Portugal, que é novo nestas andanças, recomendaríamos que não se deixe embarcar em canções do bandido... «Nem mais um soldado para as colónias» ou já se esqueceu? Meter-se em assuntos alheios a soldo de Angola seria uma monstruosidade e de resultados muito provavelmente desastrosos, para a sua insignificância operacional.
Aly: espero que os responsáveis pela tua prisão caiam rapidamente em si e te deixem continuar a trabalhar, sem quaisquer condições ou condicionamentos. Um abraço
Olá!
ResponderEliminarNo entretanto, libertaram-te! Ainda bem.