Egas Moniz foi tutor de Afonso Henriques (há quem defenda mesmo que era o seu próprio pai), e ficou conhecido na história de Portugal pela célebre «humilhação» a que se sujeitou a si, à mulher e aos fil
hos, ao entregar-se com uma corda ao pescoço para compensar o Rei de Leão, a quem o infante de quem era aio prometera uma vassalagem que não era oportuno concretizar: como ficara fiador da promessa, sujeitava-se ao inimigo, pagando com a sua vida e dos seus. Na corte de Leão, passada a primeira surpresa com o gesto, conhecendo a irascibilidade do Rei, todos esperavam um desfecho rápido e violento para esse desplante do português; mas o Rei, graças a Deus, acalma, tem um lampejo de magnanimidade e perdoa-lhe, trata de gasalhá-lo e manda-o de volta para o seu Rei com grandes elogios, e, virando-se para os seus súbditos, suspira: «_Tivesse eu meia-dúzia destes.»José Eduardo dos Santos deveria mandar aprontar o seu jacto pessoal, pedir autorização para aterrar em Bissalanca, sugerir uma entrevista à TV guineense, assumir a responsabilidade pelo deslize da sua política externa, pedir desculpas a todos os guineenses por aquela que acabou por configurar ou, pelo menos, parecer (à mulher de César, não basta ser séria, tem de o parecer), uma ingerência externa nos assuntos internos da Guiné-Bissau; para não deixar contas por saldar, clarifique e quantifique os interesses angolanos na Guiné-Bissau, predisponha-se a ver anulados todos os contratos que eventualmente tenha assinado, que não sejam transparentes para todos os guineenses (pois estes querem legitimamente saber - e controlar - para onde vão parar os frutos da sua terra, não querem uma cópia deslavada - quanto mais imposta à força - do modelo angolano: torna-se realmente difícil discernir quais as suas vantagens).
Já agora, não fique ressabiado e mantenha a sua disponibilidade para colaborar com o povo guineense na base de um entendimento de igual para igual, de forma bem clara e transparente quanto aos objectivos, e sempre em prol da Paz e de um Desenvolvimento sustentável para o Continente. Um mea culpa sentido (sem exageros de retórica) não o desprestigia, senhor Presidente, antes pelo contrário, mesmo em termos internos, mostraria o seu lado humano de grande estadista. Ninguém vai notar grande coisa (no mundo ninguém está a perceber nada, de qualquer forma, desta situação), a coisa resolve-se sem ninguém se magoar e fica tudo amigo outra vez. Não custa nada: sai-lhe imensamente mais barato que qualquer outra opção. Rezo sinceramente para que o pragmatismo que sempre o orientou, o possa agora iluminar e guiar neste passo complicado da sua carreira. Vai lá, leva consigo as tartarugas de volta para casa e para as mães, e esta história tem um final feliz.
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