quarta-feira, 25 de setembro de 2024

CRIMInoso



A preguiçosa RFI, à falta de novo material para assinalar o centenário do nascimento de Cabral, republica em formato "podcast" trabalho feito para o cinquentenário da sua morte, há um ano e meio.


A abordagem jornalística é fakeciosa e denota uma insustentável superficialidade da investigação do par de jornalistas luso-francês: apesar de citarem Oramas, pelos vistos não o leram na totalidade...


Misturam factos posteriores ao assassinato de Cabral, em conexão com os serviços secretos franceses, para reciclarem petas do envolvimento da PIDE/DGS, ou até de Marcelino da Mata.


Ora o artigo do mesmo autor, publicado uma semana depois do assassinato, está claramente melhor, para o que se sabia à época, do aquele que escolheram para peça-chave, dois anos depois!


A tese é a da participação dos mesmos personagens envolvidos no assassinato de Humberto Delgado e da sua secretária, em Vilanueva del Fresno, sete anos antes. Só desinformação!


Marcelino da Mata estaria à espera com num barco de guerra português? Brincadeira! As lanchas do PAIGC foram trazidas de volta por duas lanchas da Marinha de Sekou Touré? Mentira!


(basta ler o embaixador Oramas, para ficar a saber como foi uma unidade da Marinha soviética que procedeu ao aprisionamento das lanchas da Marinha do PAIGC comandadas por Cani)


O Bruno Crimi fizera turismo político em terras africanas, contudo em 1973 ainda achava que era um jornalista. Em 1975, era já um "jornalista de intervenção", um autêntico activista.


PS Uma vez que acham por bem confirmar le mensonge de Bruno Crimi sur l'assassinat d'Amilcar Cabral, cujo "relato, que a RFI pôde confirmar tendo acesso a novas fontes" o qual "diz ter conseguido ter acesso, depois da Revolução dos Cravos de Abril de 1974, a documentos guardados zelosamente nos arquivos da PIDE-DGS, na rua António Maria Cardoso, na capital", seria bom que avançassem, sob pena de serem legitimamente apodados de mentirosos, com pelo menos uma pequena amostra desses "soi disant" documentos, já que todos os investigadores que se debruçaram sobre o tal arquivo nada encontraram nesse sentido. 

domingo, 22 de setembro de 2024

Cartaz III


Estreou em Bissau, o filme de Sofia da Palma Rodrigues, “Por ti, Portugal, eu juro”, o qual se debruça sobre o caso dos Comandos africanos, soldados que combateram nas fileiras do exército português durante a guerra do Ultramar. A Sofia e a sua equipa estão de parabéns por terem ousado violar o tabu e abordar esse tema fracturante, de ambos os lados da antiga trincheira. Entretanto, meio século passou sobre os acontecimentos, os arquivos militares foram desclassificados… Desde 2017, a Sofia recolheu testemunhos que se perderiam para sempre de outra forma: entre os sete protagonistas escolhidos para apresentar (o projecto tem bastante mais material recolhido), apenas três continuam em vida. Pena é que tenha sido o Centro Cultural francês a acolher a iniciativa, indício conclusivo da atitude comprometida do Estado português nesta questão. 


A verdade liberta. Se o making of, só por si, já evidencia o efeito catárquico a título individual (um dos protagonistas assume ser a primeira vez que aceita falar, longo silêncio, lágrimas), o impacto colectivo, memorando a tragédia e o sofrimento destes homens para a história, é já um resultado maior. Um pouco como aconteceu com Joaquim Furtado, cuja série sobre a guerra colonial enterrou definitivamente esse manto de silêncio com que envergonhadamente se acolheram aqueles que, do lado português, foram obrigados a combater numa guerra que muitos consideravam injusta. O blog Tabanca Grande, no qual desde 2005 se recolhem testemunhos de ex-combatentes, é outro exemplo. 


A Sofia conseguiu fazer-se ouvidos e penetrar a fundo no trauma, nas várias estratégias de sobrevivência face à perseguição implacável de que foram vítimas, à dor de ver os camaradas caírem uns após os outros, ao sentimento de abandono por parte de Portugal. Sobressai uma narrativa de compulsividade no recrutamento, a qual se equipara à obrigatoriedade do serviço militar para os jovens portugueses. De ambos os lados, irmanados por não terem ido à guerra por sua vontade, mas por força das circunstâncias. 


A Sofia admitiu, todavia, uma excepção. Um tabu remanescente, perante a violação assumida? A polémica que se seguiu ao falecimento de Marcelino da Mata, durante o COVID, veio demonstrar que, se o tabu da guerra colonial está definitivamente enterrado na sociedade portuguesa, o tema continua fracturante. Podem compreender-se as razões da Sofia, para não perder o foco na humanidade da tragédia e evitar que esta canibalizasse o fio à meada. Contudo, e por isso mesmo, esta atitude pode ser sintomática de uma negação primordial, ou seja, da dignidade do juramento “ideológico” de Marcelino da Mata por Portugal. Há precedentes históricos, como Honório Barreto. 


A Sofia, que trabalha no projecto Divergente, discrimina entre jornalista e activista, considerando-se na primeira categoria. Obviamente que este é sempre um equilíbrio difícil; acrescente-se que nem sempre foi assim, lá vai o tempo em que ser jornalista de intervenção estava na moda. A esse título, a Sofia deverá refrear afirmações como “a africanização da guerra foi criminosa”. No contexto em que foi proferida, e em especial em relação ao General Spínola, pode mesmo induzir em erro: basta consultar o quadro de efectivos não metropolitanos para constatar que o número de recrutados localmente não subiu significativamente com a chegada de Spínola em 1968, nunca ultrapassando um quarto dos efectivos totais. A africanização da guerra já existia e nunca atingiu a dimensão que um espectador desinformado pode entender por essa afirmação.



O convidado para se sentar ao lado da Sofia durante o debate que se seguiu à sessão de cinema, utilizou igualmente a palavra criminoso, referindo-se ao General Spínola, um militar honrado e respeitado. Esforçou-se por tentar branquear o papel do PAIGC no massacre destes homens, lembrando que os pós-guerra trazem sempre uma caça às bruxas, fornecendo para exemplo as mulheres francesas colaboracionistas durante a ocupação nazi, a quem foi rapado o cabelo, com a “libertação”. A negação parece um péssimo sintoma, atendendo aos objectivos da iniciativa. Portugal reconheceu a independência da Guiné há cinquenta anos: a guerra deveria ter acabado, mas parece haver quem continue a alimentar ódios não só básicos, como verdadeiramente criminosos, nem que por omissão, tentando justificar o injustificável: não se arrependem e voltariam a fazer o mesmo? Obsoleto! Parece que os complexos que assassinaram Cabral continuam vivos!


Guerra é guerra. Se houve um teatro onde a guerra foi mais “humana”, foi na Guiné, com o General Spínola: por exemplo, acaba com a PIDE em Bissau, chegou a querer prender o seu Director, declarando que preferia não ter informações a que estas fossem extraídas por métodos desumanos. Criminosos foram aqueles que mataram Cabral, os mesmos que, já em tempo de paz, enganaram os comandos, primeiro para os desarmar, para depois mais facilmente os martirizar. 


Obrigado, Sofia, foi comovente constatar como conseguiu devolver a identidade a estes homens. Talvez não seja o reconhecimento que pretendiam, mas é algo, já.

domingo, 15 de setembro de 2024

Recomendação aos viajantes

A notícia que dá por certa a chegada de autoridades estrangeiras para o controle de mercadoria apreendida no aeroporto certamente não passa de boato (ou fake, para quem prefira anglicismos), pois não é do conhecimento público qualquer convite oficial nesse sentido. No improvável e impensável caso de tal voluntarismo e intempestividade unilateral encontrarem algum tipo de suporte na realidade e apesar de o Almir Bubo estar engaiolado, recomenda-se aos destacados e esforçados agentes para preferirem andar de chinelos (ou eventualmente descalços, se preferirem um contacto mais íntimo com a terra), em vez de pisarem o chão com botas de marca. Já agora: no direito local, de inspiração portuguesa, a armadilha não é punível. 


PS Pelo atrás exposto se infere igualmente que devem ao Senhor Almirante uma indemnização pelo seu sequestro, prisão e julgamento ilegal.

sábado, 14 de setembro de 2024

Nós, eu e o presi da ANP

Somos todos uma única pessoa.

Difunda-se amplamente

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Cartaz II

 


Ao contrário dos outros membros de expressão portuguesa da CPLP, em que o momento da independência é um só, coincindindo obviamente com o reconhecimento por Portugal, a Guiné é um caso à parte, pois estava diante na luta. A auto-proclamação só encontra paralelo com o caso do Grito do Ipiranga, independência do Brasil (as independências sul-americanas precederam em cento e cinquenta anos as africanas). Faz todo o sentido comemorar o último acto do cumprimento cabal do Programa Mínimo.

PS Claro que o próprio caso brasileiro não passa de um mal-entendido, uma vez que a auto-proclamação não é contra ninguém, para além do próprio Dom Pedro, o qual sendo Imperador de Portugal e do Brasil, optou por apenas uma parte do todo: um tiro na perna, vá.

domingo, 1 de setembro de 2024

Cartaz

Exposição inaugurada pelo Primeiro-Ministro, pode ser visitada até final de Setembro.