domingo, 28 de junho de 2015

José Eduardo dos Santos gozado na África do Sul

O maior think tank sul africano, o diário Daily Maverick 

[segundo Gill Moodie «toughtful news and analysis website quickly picked up an audience and became a fixture in our media landscape» ou, segundo Herman Manson "in terms of insight into what's happening at grassroots and political intelligence, they have emerged as a clear front-runner"]


goza com o Presidente angolano, intitulando a sua análise «O clube de leitura que aterrorizou o regime angolano». Face à gravidade das acusações do PGR, o jornalista Simon Allison questiona-se se os activistas foram apanhados a distribuir armas à população? A resposta é de que «foi muito mais grave, foram apanhados a ler, a discutir, a pensarem por eles próprios!». Crime capital para um regime em estado terminal... «A recente vaga de prisões é uma clara indicação do nervosismo do regime em face da crise e da exposição da suas fragilidades internas. (...) haverá um momento em que o regime entrará em colapso, e esse momento pode estar iminente».

Ler também a crónica de José Eduardo Agualusa, sobre o mesmo assunto.

Autoridades angolanas acusam George Soros de conspiração

Espero ser detido, mas por favor, telefonem-me, antes de me virem prender.

Lobito, 27 de Junho de 2015

Ao Exmo. Sr. Procurador-Geral da República José Maria de Sousa

Cordiais saudações. Chamo-me José António Martins Patrocínio, filho de António José Ferreira Patrocínio e de Maria Odete Ribeiro Martins Patrocínio, nascido aos 26 de Dezembro de 1962 na cidade do Lobito onde actualmente resido. É com alguma animação, estupefacção, desassossego e questionamento, que tenho vindo a acompanhar toda esta novela de detenção de 15 cidadãos em Luanda, onde o protagonista principal é sua excelência, Sr. Procurador da República. De acordo com aquilo a que nos é permitido ter acesso, principalmente pelas redes sociais, mas também pelos órgãos de comunicação social públicos, onde o contraditório não é permitido, o Exmo. Sr. Procurador-geral da República declarou "que no dia 20 do mês corrente foram detidos 13 jovens, na sequência do cumprimento de um mandato de revistas, busca e apreensões que o Serviço de Investigação Criminal (SIC) realizava no bairro da Vila Alice, distrito urbano do Rangel. Adiantou que no dia 21 foi detido um outro elemento, quando pretendia passar a fronteira da Santa Clara para a Namíbia e, na terça-feira, as autoridades policiais detiveram mais um jovem oficial da Força Aérea Nacional que também estava envolvido no grupo de elementos detidos no primeiro dia."[1] Adiantou ainda, o Exmo. Procurador, que "tudo começou com uma denúncia junto da Polícia Nacional que deu origem a que o SIC se pusesse em campo para constatar a veracidade dos factos que eram denunciados"[2]. De acordo ainda com a ANGOP, em função disto “o Ministério Público deu luz verde para que fossem realizadas determinadas diligências e assim se confirmou que os jovens reunidos estavam a praticar actos preparatórios que poderiam levar a destituição do Governo legitimamente constituído, a partir das eleições de 2012”.[3] Declarou também "que os jovens estavam a preparar-se para uma acção de insurreição e desobediência colectiva que visava a deposição do Governo e a destituição do Presidente da República. Por isso esses actos constituem crimes contra a segurança do Estado, mais propriamente o crime de rebelião. Com efeito, os órgãos competentes do Estado têm que tomar as medidas necessárias para evitar o pior”.[4] Já a 25 de Junho de 2015, a Assembleia Nacional informa que o Exmo. Sr. Procurador esteve naquele órgão de soberania para se reunir com os grupos parlamentares, conjuntamente com o Ministro do Interior, Director dos Serviços de Investigação Criminal e o Comissário Chefe, Eugénio Pedro Alexandre, onde "esclareceram que os 15 jovens foram detidos sob acusação de tentativa de insurreição e atentado contra a segurança pública".[5] De acordo com a Rede Angola, "o procurador não precisou que questões e actos são esses: 'Não posso dizer que actos são esses e eu próprio não tenho domínio dos factos, além de que o processo está em segredo de justiça'. O procurador afirmou ainda que os tais actos e questões não especificados 'constituem crime contra a Segurança de Estado, mais precisamente crime de Rebelião, eles reuniram-se para preparar uma acção de insurreição, de desobediência colectiva, deposição do governo e destituição do Presidente da República', implicando que a reunião do grupo 'constitui uma tentativa de golpe de Estado'."[6] "Questionado sobre se os presos políticos estavam a trabalhar sozinhos 'ou se havia alguém por trás', o procurador disse também não estar ciente dos factos. 'Sei tanto quanto o jornalista'."[7] Algumas fontes apontam que o comunicado da PGR[8] acrescenta ainda que durante as buscas e revistas, foram apreendidos na posse dos detidos, computadores portáteis, pen drives, telemóveis, entre outros objetos "com conteúdo suspeito"[9]. "De realçar que entre os documentos apreendidos consta a composição de todos os Órgãos do Estado que seriam criados pelos insurrectos, desde o Presidente e o Vice-Presidente da República, o Presidente da Assembleia Nacional, os Tribunais Constitucional, Supremo, de Contas e Supremo Militar, entre outras instituições do Estado e os governos provinciais", lê-se no comunicado.[10] A nota refere ainda que os "insurrectos" pretendiam denominar os novos órgãos do Estado por "Governo de Salvação Nacional", tendo já a indicação dos nomes de futuros titulares dos cargos públicos, constando igualmente os nomes de alguns cidadãos ora detidos.[11] Os ditos "insurrectos" foram, então detidos em datas e locais diferentes. Alguns deles foram também obrigados a acompanhar os ditos "agentes da autoridade" até às suas residências onde foram apreendidos desmedidamente bens sem qualquer documento que legitimasse tal busca e tal apreensão de bens.[12] Há também informações que um deles, o autor do livro "180 Técnicas para derrubar um ditador" tenha sido vítima de agressões físicas. Por outro lado, as famílias queixam-se de serem impedidas de ter contacto com os detidos e "questionam a lucidez do Presidente angolano".[13] Já um dos advogados, Walter Tondela, na base das acusações, crime de rebelião e de atentado contra o presidente da República, tipificados na lei de crimes contra a segurança de Estado (artigos 21 e 23) considera que na base do artigo 28 da mesma lei, os arguidos poderiam ter liberdade provisória depois de terem sido ouvidos, mas, a Procuradoria decidiu pela manutenção da retenção prisional.[14] Por força de tal acção avançada por decisão do Exmo. Sr. Procurador, várias organizações nacionais e internacionais, como pessoas singulares[15] já se posicionaram exigindo a libertação imediata dos detidos, tais como o GAPPA[16], AJPD[17], OSISA[18], Amnistia Internacional[19], William Nicholas Gomes (defensor de direitos humanos e jornalista do Ghana)[20], Reginaldo Silva (jornalista)[21] e a Universidade Federal da Paraíba (Brasil)[22] que solicita o acompanhamento do caso pelo seu governo. Por último, foi divulgado pela ANGOP, (não preciso lembrar-lhe que é um órgão público de comunicação suportado com os nossos recursos para nos informar com verdade e isenção) baseando-se no que designou ser fonte segura (esperamos que não seja tão segura como as vossas fontes para ter dado a "luz verde" neste caso) de que  "um indivíduo de nacionalidade angolana, acusado pela justiça de crimes de rebelião, Dionísio Gonçalves (Carbono), pediu asilo na Embaixada dos Estados Unidos da América em Luanda."[23] Este órgão de informação público avançou ainda mais: as suspeitas do envolvimento de Dionísio Gonçalves nos planos de desestabilização em Angola assentam em provas concludentes, recolhidas pelas autoridades de investigação.Segundo essas provas, na sua residência estava a ser montada uma estação de televisão “online”, financiada pela Fundação Open Society, uma organização não-governamental internacional, dirigida pelo especulador financeiro George Soros, que promove a desestabilização de regimes democráticos. A estação de televisão iria servir para apoiar os planos de rebelião e desestabilização em Angola. A residência de Dionísio Gonçalves foi alvo de buscas do Serviço de Investigação Criminal e no local foram encontradas provas muito fortes do envolvimento de “Carbono” na actividade criminosa. A Procuradoria-Geral da República denunciou, sexta-feira, em Luanda, um pormenorizado plano de rebelião, que estava a ser preparado por um grupo de 15 indivíduos de nacionalidade angolana, para a deposição dos órgãos do Estado estabelecidos em Angola. O grupo, pertencente a um auto-proclamado “Movimento Revolucionário de Angola”, foi posto pelos órgãos judiciários em prisão preventiva, depois de ouvidos em interrogatório perante os seus advogados. Depois disto, só me cabe a mim enquanto cidadão, enquanto implicado nesta novela, estabelecer com o excelentíssimo Sr. Procurador-geral da República, alguns pontos importantes, antes de lhe fazer o meu pedido pessoal de quando me mandar deter, me telefonar com antecedência. Reconheço, em si e neste acaso, uma capacidade enorme de reacção imediata e de iniciativa tendo tão pronto dado as devidas orientações para que a novela se pusesse em acção. A dita "luz verde". Algo que, infelizmente, mas já habituado, não vejo em outros assuntos de interesse público e do Estado angolano. Não vi essa perspicácia, aliás importante, em casos como do nosso concidadão Bento Cangamba (denúncia mais que pública), nem dos milhões do BESA e nem sequer do caso "Monte do Sumi", apenas para ficar por aqui. Todos nos lembramos de como muitos dos actuais arguidos da sua "luz verde" foram violentamente agredidos em tempos idos, por diferentes vezes, quer por agentes da polícia como por elementos à civil que até tiveram espaço de antena, na nossa televisão pública, que todos pagamos, para se gabarem das suas atrocidades, fazerem arrogantes ameaças e assumirem os seus actos. O exmo. Sr. Procurador decerto que não está esquecido da falta de "luz verde" da sua parte para que hoje todos, incluindo eu, possam saber se sobre aquela tragédia tenha continuado algum processo. O quanto sei, foram feitas as denúncias, havia (e há-as) as provas, mas ainda não vi o Exmo. Sr. Procurador pavonear-se nem na imprensa nem na Assembleia Nacional a prestar os devidos esclarecimentos sobre os mesmos casos. Não vi, qualquer iniciativa de garantia de protecção, perante as denúncias de perseguição e ameaça apresentadas pela associação SOS Habitat, como da OMUNGA. Possivelmente devem também ser organizações envolvidas com estes "insurrectos" para darem "golpes de estado". Por outro lado me surpreende essa "luz verde" quando, de acordo com o que circula, nem o senhor sabe o que estes cidadãos realmente estariam para aprontar, nem quem os apoiava. Mas a ANGOP tem mais informações que o Exmo. Sr., o que me preocupa. Nem ainda temos conhecimento sobre o autor da dita denúncia junto da polícia. Será que nos pode dizer o nome e apresentar-nos a prova da referida denúncia? Para que não possa dizer que não tem a perspicácia em dar a devida "luz verde" para a devida intervenção dos SIC, aviso-o de que a informação prestada pela ANGOP sobre o pedido de asilo na embaixada dos Estados Unidos em Angola por parte do cidadão Dionísio Gonçalves (Carbono) pode não corresponder à verdade pelo que lhe peço que dê urgentemente a sua "luz verde" para que investiguem este facto. Por último e, afinal a razão desta minha carta aberta, tem a ver com a lista para o possível "Governo de Salvação em caso de crise política", uma das inúmeras provas que o Exmo. Sr. Procurador se tenha baseado para dar a sua tão iluminística "luz verde". De acordo a uma presumível lista, eu apareço apontado para o cargo de Ministro da Reinserção Social (veja lá bem meu caro Exmo. Sr. Procurador). Assim sendo, e preocupado com a sua "luz verde" só lhe quero lembrar que tenho uma mãezinha de oitenta e tal anos, pelo que preciso da sua colaboração para que eu a possa preparar psicológicamente para a iluminação da sua "luz verde" para a minha detenção, neste processo, é claro. Pelo que lhe exponho, peço que quando der a "luz verde" para a minha detenção, ou seja, a detenção do presumível Ministro da Reintegração Social do Governo de Salvação em caso de crise política, liguem-me para os terminais 913 641 941 ou 925 690 207 (facilito os contactos para que o SINSE não perca tempo a procurá-los) para que eu possa estar preparado com banhinho tomado, unhas dos pés arranjadas e a família por perto para umas selfies pró facebook e uns jornalistazitos para umas show entrevistinhas. Aproveito para informar que já tenho todo o material preparado para que o venham buscar, como o laptop, a memória externa (menos a câmara fotográfica e aquele telefone que os fardados e com AKM levaram há uns meses atrás da minha casa). Sei que deve estar muito ocupado a acompanhar a sua "luz verde" neste caso e por isso só tenho que agradecer o precioso tempo que o Exmo. Sr. procurador dispensou a este cidadão, ou melhor, Ministro da Reinserção Social do Governo de Salvação em caso de crise. Cordialmente,
José Patrocínio

Depois da revolta bancária de sucesso, da Senhora Dona Maria Odete Patrocínio, coroada por uma Carta Aberta ao Governador do Banco Nacional de Angola, eis a raiva com a actual situação, exposta pelo filho.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

PGR angolano em pleno delírio

Especialmente «bem» instruído, o PGR vem confirmar a prisão dos jovens activistas, através de declarações à Rádio Nacional de Angola, os quais estariam em «actos preparatórios» para... ora esta declaração é incoerente com o próprio pretexto de «flagrante delito». Na estupidez e arrogância típica do regime, pretendem fazer o mesmo que fizeram em Cabinda, onde prenderam «preventivamente» por suposta «intenção» de manifestar (que nem sequer é um crime, mas um direito constitucional). O pau mandado passa claramente das marcas quando pretende associar às detenções dos revús a prisão de um «oficial da Força Aérea», que obviamente nada tem a ver senão com a própria tese do «Golpe de Estado» inventado. O senhor Procurador perdeu inteiramente a noção da dignidade e o sentido do ridículo...

Golpe de Estado

Segundo declarações à DW do sociólogo angolano Manuel dos Santos, o verdadeiro Golpe de Estado é a falência da Sonangol, que José Eduardo dos Santos quer ocultar sob a capa de ameaças de «intentonas» que não passam de «inventonas». Era inevitável, com a Arábia Saudita disposta a manter a cotação do petróleo abaixo do custo de produção da petrolífera angolana, para garantir a competitividade face às novas tecnologias. Segundo artigo do Expresso, o  Presidente da Sonangol admitiu que o «modelo operacional» da companhia «fracassou e está falido». Não se pode ser mais claro: quando se rouba e promove a estupidez, que esperar? Confessa Francisco Lemos que se deixou de aprender, que a única coisa que sabem fazer é subcontratar (obter chorudas comissões). Ou seja, não estamos perante governantes, mas simples gatunos de estrada.

Mãe de Mbanza

«Não teima... então você é um presidente, um governante da sociedade, vai ter medo de criança que está estudando simplesmente livro? (...) Mbanza não tem arma. Golpe de Estado começa com Generais!» DW

terça-feira, 23 de junho de 2015

Emiliano Katumbela

«Se não os soltarem [os activistas detidos] vamos empregar as ferramentas que aprendemos [para derrubar a ditadura]» Os próprios detidos previram esta possibilidade, considerando-a mais uma ferramenta para o derrube do ditador, no contexto de uma irreversível erosão do regime, por falência técnica.

Infla(matório)

Quem leia o relatório desta semana do Banco de Angola, poderá ficar, à primeira vista (realce a negrito), equivocado quanto à colocação de obrigações do tesouro, que teria sido de 3,3 mil em 7,2 mil milhões. No entanto, quem faça as contas, rapidamente perceberá que se trata de mais um erro num relatório destes, sendo a colocação de apenas um milésimo desse valor; ou seja, a absorção desses títulos continua tendencialmente nula (< 0,5%), tal como, aliás, a credibilidade do Banco de Angola, ou do Instituto Nacional de Estatística, que assume uma inflacção homóloga de 1%, durante o mês de Maio (com aumentos drásticos de gasolina e de transportes, que induziram o aumento de muitos bens de primeira necessidade, como a água em tambor). O politicamente correcto do ditador pelos vistos induz a cegueira total nos funcionários, caindo em pleno ridículo.

domingo, 21 de junho de 2015

Os medos de José Eduardo dos Santos

As peças de acusação contra os activistas angolanos presos durante este fim-de-semana, vão essencialmente consistir na apresentação de dois livros em preparação cujo tema é precisamente a queda da ditadura de José Eduardo dos Santos: um de Nuno Dala «O pensamento político dos jovens revús» e outro de Domingos da Cruz, «Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura». Tenho a honra de ter sido convidado para participar em ambos, respectivamente com um posfácio e com um comentário crítico. Por isso, à medida dos meus fracos recursos, aviso já: prender os autores não vai parar a sua divulgação; tenho ambos os originais em meu poder e, caso mais ninguém mais qualificado o faça e os seus autores continuarem presos, arranjarei maneira de os dar ao prelo e disponibilizar a baixo preço. Com uma censura prévia destas, o sucesso está garantido. Quanto à acusação de «Golpe de Estado», se fizerem um esforço para ler, descobrirão que se defende precisamente o contrário e se faz a apologia da não violência. Defendem os seus autores que não basta mudar de ditador, tratando-se de algo muito mais profundo, que radica numa profunda mudança de atitudes e de mentalidades: numa luta pela dignidade humana, restituir às pessoas um efectivo controlo da governação e uma autêntica soberania sobre os seus destinos.

Liberdade imediata para Nuno Dala e Domingos da Cruz!

Uma cambada de burros corruptos a humilhar intelectuais que representam um futuro positivo para Angola? Abaixo o apartheid da inteligência. O mundo está de pernas para o ar, dando razão à ilustração do livro de Domingos! E o ditador deixou cair a máscara...

Preto burro

O discurso simplista que nos «relata» as mazelas de cinco séculos de colonialismo, não deve enclausurar-nos as vistas para o processo (inacabado) de reconstrução de uma identidade africana, face aos resquícios mentais do sistema colonial, que continuam pesando sobre os povos do continente, despudoradamente alimentados por várias ex-potências coloniais, como forma de manter a sua influência, impedindo assim uma afirmação positiva do seu próprio caminho para o desenvolvimento. Tentarei apresentar-vos uma leitura actual do trabalho de Luís Cunha, cujo título «A imagem do negro na banda desenhada do Estado Novo» deu origem, na semana passada, a um interessante artigo no Observador. Um alerta para os cuidados a ter com a reprodução inconsciente e desinformada de estereótipos...

Portugal teve um colonialismo tardio, com uma duração inferior a um século: ao tráfico efectuado em fortalezas, no qual a soberania territorial não ia além do alcance de um tiro de canhão, não se pode fazer corresponder este conceito. Só por pressão da Alemanha recém unificada e pretendendo ao império ultramarino, Portugal foi obrigado a ocupar o sertão, cujas campanhas de «pacificação» se estenderam pelo princípio do Século XX. Salazar reinventou depois o Império, baseado numa visão paternalista, cujo «particularismo» escondia mal um profundo racismo, bem patente nas políticas de aculturação e «assimilação» levadas a cabo. A abordagem, que Adriano Moreira ainda tentou mitigar apostando numa intelectualidade africana, acabaria inevitavelmente mal, prolongando-se por uma guerra colonial ingrata, de mais de uma dúzia de anos, culminando na queda do regime e numa brusca e desastrosa «descolonização».

Desde muito cedo que o sistema colonial usou, na sua narrativa, a imagem do preto (por exemplo em bilhetes-postais ou na Exposição do Mundo Português de 1940), mas este era desprovido de voz (não nos referimos apenas a limitações tecnológicas, como no cinema), eventualmente, associado ao som do batuque, e apresentado como dócil figurante. Os movimentos de libertação denunciavam a «coisificação» de que o indígena era alvo e conduziram uma guerrilha militar que não souberam transformar em luta política, de transformação, de dignificação, de empoderamento do homem e da mulher africana. Num continente martirizado, pseudo-elites constituídas em cleptocracias, apoiadas pelos regimes ocidentais, prolongam uma agonia cujas feridas cada vez mais infectadas e expostas, estão à vista de toda a gente, com assassinatos xenófobos, boat-people apinhados, terroristas convertidos em Estados...


É legítimo questionar até que ponto não estamos perante uma profunda crise identitária. Não deveríamos antes encarar a descolonização como um processo que continua em andamento? Esse parece ser o tema central do escritor angolano José Eduardo Agualusa, ou, em relação a Moçambique, o que levou Cabaço a concluir que «as políticas socialistas não foram capazes de romper radicalmente com a “sociedade colonial” nem tampouco consolidar a tal “identidade nacional”». Do lado de cá, a descolonização mental implica lutar contra o preconceito que alimentamos contra a nossa própria História, cheia de pequenas histórias. Na primeira década do século XVI, um príncipe do Congo veio para estudar em Coimbra, onde se diplomou com distinção, chegando a Cardeal, em Roma! Já no século XIX, poderíamos igualmente lembrar Honório Barreto, guineense, mais patriota que muitos portugueses indígenas, que chegou a Governador da Guiné, despoletando o espanto e criando incrédulos pela Europa fora (um «preto» a dirigir uma administração colonial?).

Aqui na minha cidade, em Santarém, muita gente que já levei a visitar a Igreja do Hospital, fica surpreendida por saber que quem ali está enterrada, em lugar de destaque, na Capela Mor, é uma «preta», uma riquíssima «dona di tchom» de Cabo Verde e da Guiné, a qual, sem filhos, foi livre para dispor do seu património e patrocinar a construção da igreja, em meados do século XVII (convive curiosamente com Pedro Escuro, mas isso é outra história, bem mais antiga). E que dizer do Marquês de Sá da Bandeira, defendendo a abolição imediata do tráfico de escravos, nas primeiras décadas do Século XIX «é positivo que os habitantes portugueses das províncias da África, da Ásia e da Oceânia, sem diferença de raça, de cor ou de religião, têm direitos iguais àqueles de que gozamos nós portugueses da Europa»? Desde muito cedo, no Império, se manifestou uma alternativa «estratégica» (aliás duramente perseguida por D. Manuel, que chegou a mandar matar «colonos» portugueses desobedientes), na Guiné consistiu nos «lançados», aqueles que se escapavam ao regime, obrigações e modo de vida colonial, para se misturarem na vida local, acabando por se miscigenar. Outro bom exemplo foi Pero da Covilhã, o erudito espião ao serviço de Dom João Segundo, que face às notícias da morte do seu príncipe e Senhor, se deixou ficar pela Etiópia, como conselheiro real, criando numerosa descendência de vários casamentos. Ou outro homem de mão de Dom João Segundo, Afonso de Albuquerque, o artífice do Império asiático, incentivava os seus soldados a criarem raízes.

Nem devemos pretender padronizar demais as narrativas oficiais, que foram marcando (mas também sendo condicionadas) as épocas e os momentos, emprestando-lhes um cunho hegemónico que não tiveram, pois sempre existiram vozes discordantes, cujo bom senso se fazia ouvir, muitas vezes a contra-corrente. Um inquérito racista cujo objectivo consistia essencialmente em provar que os «pretos» tinham a idade mental das crianças, desenvolvido para o Congresso Nacional de Antropologia Colonial de 1934, desenvolvido junto de missionários, oficiais do exército, médicos, funcionários e outras profissões, no qual se inquiriam várias qualidades como aptidão para o trabalho, impulsividade, moralidade, sugestibilidade, auto-controle, capacidade de decisão, previdência, tenacidade, inteligência global e educabilidade, obteve apenas 27 respostas... deveras interessante é que alguns dos inquiridos defenderam que os brancos metropolitanos eram inferiores aos chinas e aos pretos da Guiné! Não podemos pois compactuar com discursos simplistas e redutores. Talvez devamos antes encarar com esperança os sinais dos tempos: nomeadamente as novas narrativas de resistência e de afirmação identitária, das quais o rap angolano, como agente de comunicação de uma revolução inadiável das mentalidades, é um bom exemplo, ao mesmo título que o Movimento Revu (revolucionário); ou ao novo impulso que as novas tecnologias e o acesso às redes sociais virtuais, vieram trazer à liberdade de expressão e de associação, criando um novo espaço de intervenção política, cuja acção informada, coerente, sustentável e, essencialmente, participada e partilhada na internet, tende a assumir um papel cada vez mais relevante, magnificando uma nova dimensão de activismo para uma cidadania global.

José Eduardo dos Santos aposta na perpetuação do preto burro! Todos os que ousarem pensar vão presos por «Golpe de Estado»! Libertem Luaty Beirão e Nito Alves!

Paranóia terminal

Num verdadeiro tiro no pé, o regime angolano prendeu ontem em casa (no caso de Luaty Beirão, algemado e maltratado à frente da filha pequena) uma série de 13 activistas, apreendendo igualmente todo o seu material informático e de telecomunicações, invocando como pretexto um «Golpe de Estado» em preparação (como se isso fosse possível, em Angola). Libertem já Luaty Beirão, Nito Alves, Mavungo, Kalupeteca e todos os outros pacifistas presos! Prisão imediata de José Eduardo dos Santos e seus esbirros, por atentado à segurança do Estado de Direito. O pobre (literalmente, agora) ditador agonizante quer castigar os vivos? Veremos o que fará Portugal, perante esta enormidade (sabendo que JES nunca mais lhes pagará um centésimo de yuan)... Continuarão os jornalistas a calar a cada vez maior e imparável oposição ao regime sanguinário e torcionário?

sábado, 20 de junho de 2015

O ladrão, o corrupto e o inimigo

Torna-se cada vez mais necessário construir uma consciência colectiva do perfil político dos nossos líderes. É urgente uma reflexão sobre quem nos deve governar. Basta de pessoas com mau carácter que nos são impostas para mandar, impostores com modos negativos, agir tendencioso, corruptos, sob influências ocultas dos lobbies. O Povo paga caro por incompetência de lideres com fraco perfil para governar, centrados no umbigo, megalómanos, gente fria, arrogante, complexada, amantes do «quero, posso e mando», ditando as regras de cima para baixo: em vez de servirem o Povo, servem-se!

Será falta de uma cultura de liderança capaz? O Guineense é capaz, se escolhermos os líderes por Meritocracia, perfil de liderança positiva!

“quem te avisa, teu amigo é” - o ladrão, corrupto ou inimigo, não pode levar a mal, este aviso.

Por Filomeno Pina | filompina@hotmail.com

Ler artigo completo.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Em plena crise institucional

A pedido, em relação ao artigo anterior, clarifico a posição da falta de legitimidade da Presidência da República e do Presidente da Assembleia, em caso de queda do Governo: o povo guineense votou no projecto do Engenheiro (está visto que se enganou, mas isso é outra questão) Domingos Simões Pereira. Ninguém votou expressamente em Jomav ou Cassamá. Por isso, esta «constelação» triangular, caso se desfaça, deverá automaticamente devolver a soberania ao povo, permitindo a discussão de novas propostas, mais rigorosas e consistentes, apostadas num verdadeiro combate à impunidade, como todos defendem.

Afirmou Jomav acerca do pronunciamento de Luanda «Não é aceitável! [Cassamá]! (...) não fui eleito por voto universal, livre e secreto dos guineenses para ser conivente com situações como estas. É chegado o momento de definirmos o tipo de instituições e modelo de sociedade que queremos para nós e para os nossos filhos! Não me consigo conformar com a degradação e cada vez mais acentuada inversão de valores que reina na nossa praça.» Mas voltando ao tema da confiança, oiça-se o mesmo Jomav «A confiança dos cidadãos nas Instituições da República e nos titulares dos Órgãos de Soberania depende da eficácia e discrição da actuação do servidor público. Essa actuação deve ser pautada pela apresentação de resultados concretos aos cidadãos, pela contenção e por um enorme sentido de Estado».

A única saída parece ser uma alternativa concertada, um sapo que todos possam engolir.

Não cortar a árvore pela raiz

O Gabinete do Primeiro-Ministro, de forma um tanto ou quanto obtusa e narcisista, propõe um exercício de confiança à sociedade, sugerindo a imagem de uma árvore. A raiz dessa árvore, segundo o método exposto, seria a confiança entre as instituições de soberania; o tronco a confiança na Justiça e Segurança (polícia e forças armadas); os galhos seriam os meios de comunicação social, o poder tradicional e as crenças culturais, que alimentariam a confiança das folhas, neste caso, os cidadãos e as cidadãs.

A imagem parece aliciante, no entanto, não se percebe muito bem o estilo paternalista e autista do discurso. Qual a intenção do Senhor Primeiro-Ministro com esta iniciativa de «governança»? Se fizermos uma abordagem botton-up (a árvore cresce de baixo para cima, portanto corresponde àquilo que entendemos por top-down), poderemos perceber facilmente que aquilo que encrava, neste momento, na Guiné-Bissau, é a «confiança entre as instutuições de soberania», sem a qual a árvore não pode «funcionar».

Ora essa parte é da responsabilidade solidária do Senhor Primeiro, juntamente com os Presidentes da República e da Assembleia. Pretenderá o senhor Primeiro-Ministro maquilhar a realidade, que está aos olhos de toda a gente? Esconder que perdeu completamente a autoridade e não tem vocação para governar? Como pode alguém confiar num Estado que expropria madeira e areia, sem qualquer enquadramento legal, deixando apodrecer a situação, envolvendo países estrangeiros?

Ou cujas providências cautelares não são cumpridas? Onde, apesar de ameaças de auditorias, nada foi feito para apurar as contas que eram legitimamente exigidas numa Câmara de Comércio, permitindo uma tomada de posse ilegítima? Como falar depois levianamente de impunidade, se é o próprio a incentivá-la? Reunir um Conselho de Ministros com um Secretário de Estado em prisão preventiva? Com outro Secretário de Estado que «negoceia» com mafiosos, candidatos a «Companhias Aéreas» de bandeira?

Vossa Excelência deveria mudar de espelho, pois aquele que tem usado está decerto viciado, revelando a sua incomparável beleza mas ocultando lamentavelmente as suas imperfeições. Do «triunvirato» que as eleições legaram ao país, o maior responsável nominal é Vossa Excelência, que escolheu (erradamente) o cargo e os candidatos aos dois outros. Considerando-se o melhor (a falta de humildade talvez não lhe permita reconhecer-se como «o menos mau»), deverá fazer o esforço de aguentar.

Ou seja, não permitir que, depois de fazerem o seu enterro, o PAIGC volte às disputas intestinas e sem futuro. Não será decerto fingindo que nada se passa que atingirá esse objectivo. Para colocar um fim a este status quo da indecisão e da incerteza, que em muito está a prejudicar o país, é necessário que retome as rédeas do Partido, do Governo e do Estado. Quanto à legitimidade dos dois outros órgãos de soberania, neste contexto, é pura e simplesmente nula, em caso de queda de Vossa Excelência.

Um pouco de consistência, por favor.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Repressão brutal no Burundi

As armas estão a crepitar desde o princípio desta noite, nos quarteirões centrais de Bujumbura. A polícia procede a detenções em massa, desconhecendo-se o paradeiro de muitos presos. Seis centenas de universitários, temendo pela vida, procuraram refúgio na Embaixada americana, que se recusam a abandonar.

Após uma breve trégua durante o fim-de-semana, a população continua a manifestar nas ruas a sua oposição ao terceiro mandato de Nkurunziza, repudiando o mediador proposto pela ONU, por descarada parcialidade. Segundo a sociedade civil, com Nkurunziza, não haverá eleições; segundo Nkurunziza, sem ele, não haverá eleições. Que pensar?

O Presidente Zuma, recordando o exemplo de Madiba, já avisou, na perspectiva da realização da 25ª Cimeira ordinária da União Africana, que começa amanhã na África do Sul, que o principal tema que estará em cima da mesa será um interdito sobre os terceiros mandatos e a eternização no poder.

O que vem reduzir ainda mais a margem de manobra, não só de Nkurunziza e Kagame, como de outros ditadores, autênticas lapas agarradas ao poder. Fazendo as contas a quatro anos por mandato, José Eduardo dos Santos estaria já no décimo!

terça-feira, 9 de junho de 2015

Angola - o novo Narco-Estado

A «branca» sul-americana encontrou um novo destino do outro lado do Atlântico: Luanda. Não apenas como placa giratória do tráfico, mas como mercado de consumo.

O Club-K noticia hoje que a Procuradoria chamou os jornalistas do jornal «O Crime», cuja primeira edição, de Outubro do ano passado, revelava a extensão da implicação de altas figuras do regime no negócio (embora sem citar nomes), no sentido de denunciarem as suas fontes (ninguém explica ao Senhor Procurador que o maior Direito que assiste a um jornalista é o de proteger as suas fontes?)

Sentindo-se ofendido por a sua foto fazer manchete (as fotos apenas pretendiam chamar a atenção para os responsáveis, não implicando obviamente uma acusação, pelo menos directa), o Ministro do Interior enfiou a carapuça e terá accionado o processo, pretendendo envolver igualmente o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, com o objectivo de diluir a sua própria responsabilidade (o General Nunda poderá sempre, por sua vez, sentindo-se lesado, processar o Ministro do Interior, por abuso de identidade).

Mas façamos um breve resumo de como o regime angolano, graças às suas relações privilegiadas com Portugal e com o Brasil, se tornou, nos últimos três anos, no maior Narco-Estado africano, traficando (e consumindo) quantidades industriais de cocaína, numa triangulação cujas tímidas denúncias que vão corajosamente sendo feitas aqui e ali, de um e de outro lado do Atlântico, não passam da ponta do iceberg. O primeiro sinal veio com a prisão (a pretexto ridículo - e não relacionado, claro) do comandante provincial da Polícia de Luanda e mais duas dezenas dos seus homens, no início de 2012, o qual, embora mais tarde tenha optado por um prudente silêncio, colocou na altura a boca no trombone e denunciou que «a minha travessia do deserto e a dos meus homens começou quando desmantelámos os cartéis da droga no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro e no Porto comercial de Luanda» e insinuando ainda uma total má fé «foram pura e simplesmente retirados de cena, surgindo um órgão sem competência: (...) a introdução de outros órgãos no processo, que interferiram e desviaram o curso dos acontecimentos, prendendo inocentes e mantendo os criminosos fora do circuito e dos acontecimentos que se encontravam claramente inseridos no processo pendente». 

Aparentemente, o comandante Quim Ribeiro meteu-se com gente graúda, continuando hoje a expiar o seu «crime» nas prisões do regime (enquanto, cúmulo da hipocrisia, o Ministro do Interior ainda há pouco tempo visitava Moscovo para uma Conferência Anti-Drogas)... No contexto de um interminável e completamente descabido processo ao encontro de profissionais com décadas de serviço, suas esposas dirigiram-se em princípios de Dezembro do ano passado à redacção do Club-K, acusando a PGR, em entrevista concedida no local, de forjar provas e de tentarem coagir os subordinados de Quim Ribeiro a prestarem falsas declarações contra o seu antigo superior (que estes terão dignamente declinado, por respeito), e pessoalmente o próprio Procurador de ter interesses empresariais no ramo! Ameaçando mesmo «Mas ainda que matem o meu marido, nós temos tudo bem guardado e se acontecer alguma coisa com ele os nomes irão parar até́ às instâncias internacionais de combate ao narcotráfico. Algumas destas pessoas não satisfeitas com o que já́ fizeram, continuam a perseguir‐nos. Mas estas pessoas que se lembrem do que aconteceu aos narcotraficantes da Guiné‐Bissau, onde foram mesmo lhes buscar para serem presos e julgados nos Estados Unidos da América.» A esposa de outro dos réus revelou, na mesma ocasião, em artigo publicado mais tarde, como a Procuradoria chamara o seu marido para lhe «fazer uma proposta suja de suborno»!

Mas não foi apenas o PGR a ser acusado. O agora muito «ofendido» Ministro do Interior, pela mesma altura deslocou-se pessoalmente ao estabelecimento prisional onde Quim Ribeiro se encontrava detido, numa clara tentativa de aliciamento. Falhados os seus intentos, ainda tentou instrumentalizar amigos chegados do visado (que o haviam abandonado com a sua queda em desgraça) para o mesmo fim, tendo o ex-Comandante recusado recebê-los, segundo reporta outro artigo do Club-K. Entretanto, o negócio continua de vento em popa, tal como o champanhe, não conhecendo os efeitos da crise. Ainda há pouco menos de três meses, o segundo Comandante da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, dava conta das suas preocupações em entrevista à Rádio Nacional (que eu difundi aqui) «Não digo só placa giratória, mas também, já um país de consumo, e há sinais graves de ostentação de riqueza proveniente de droga», reportando-se a pequenas apreensões (marginais, pois o grosso passa por outro lado), apontando o exemplo insignificante de um nigeriano, simples «mula», apanhado com 70 cápsulas... A questão enunciada pela mulher de Quim Ribeiro faz todo o sentido: isso é tapar o sol com a peneira, qualquer criança de rua o sabe, pois «desde que o meu marido foi preso, nunca mais se apreendeu droga no aeroporto ou se apreendem são quantidades irrisórias. Será́ que deixaram de meter droga em Angola ou agora essa entrada de droga está protegida pela polícia?».

Zé Eduardo dos Santos = Ditador Nojento = Assassino = Corrupto = Narco-Traficante

Lamentável estado

Uma denúncia pública das condições de operação do Hospital Militar de Luanda, por funcionários devidamente identificados, acaba por representar uma amostra representativa do estado do país, que «se tem vindo a degradar dia pós dia, os saques são tantos que já não sobra nada para garantir as mínimas condições

Conselho do «escritor» do regime (na vã tentativa de o salvar e por isso pode ter gosto a cínico... «com a verdade me enganas») para José Eduardo dos Santos: quanto mais impedirem as manifestações, mais haverá gente que fica com vontade de se manifestar. E quando o fizerem, será com mais força. É a tal panela de pressão. Penso que era melhor destapá-la. Qual é o problema? Se tudo está a correr tão bem não há que ter medo de nada.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Economist Intelligence Unit (LUSA)

安哥拉总统若泽·爱德华多·多斯桑托斯,敲开每一扇门,世界银行高盛,希望能募集了总计约25十亿美元。

domingo, 7 de junho de 2015

Im(p)unidade selectiva

De imunidade a impunidade, vai um simples letra. A VOA dá parte dessas preocupações, enquanto a LUSA, depois de contactar vários responsáveis judiciais guineenses, refere a estranheza manifestada por estes quanto à libertação do Secretário de Estado Idelfrides Fernandes, preso dois dias antes.

Não ficando claro de quem partiu a ordem para a sua libertação, apenas surgiram (do nada?) algumas «explicações», invocando razões de saúde e as más condições de detenção (o dúbio e oportuno papel da Liga na denúncia dessa situação, uns dias antes, traz igualmente água no bico)...

E se fosse o vulgar cidadão, deverá presumir-se que igual complacência se manifestaria? O que é facto é que essa «doença» se manifestou de forma súbita, pois um dia antes da sua prisão, fôra visto a jantar, com óptima disposição, num restaurante de Bissau, e no próprio dia, à saída da ANP (armado em deputado para insinuar imunidade, aliás incompatível com o seu estatuto de membro do Governo) não patenteava qualquer sinal desse mal que repentinamente o acometeu (decerto do foro alérgico).

A confirmar-se a sua saída para tratamento (fuga ao Tribunal) para Dakar, será um grande golpe na credibilidade da Justiça guineense, em reconstrução. Este senhor, pelos vistos com razão, julga-se acima da Lei do país, sem pudor em fazer gala de ter as costas quentes, depois de tecer uma teia de cumplicidades nos últimos três governos: Cadogo, Transição, DSP.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Carta aberta a José Eduardo dos Santos

«Senhor JES, inicio esta carta com as mesmas dificuldades que sempre tive em tratar-lhe como presidente da república. Tudo isto porque não conheço um único compatriota meu que o tenha legitimado uma única vez, para o cargo que o senhor ocupa abusivamente há mais de 35 anos. E também porque não reconheço no senhor qualidades exemplares para o tratar como presidente da república, dado o alto significado que esta palavra tem para mim. Através desta carta quero-lhe dizer também que cada vez que leio um discurso do senhor, chego quase sempre à mesma conclusão. E acho que ainda bem que a maioria dos angolanos não leva muito a sério as suas palavras que, repito; não têm passado de palavras ao vento. E é lamentável que o senhor não saiba aproveitar as tantas oportunidades que tem tido para se desculpar perante o povo angolano. Pelo sofrimento que tem causado, desde que o senhor e seu bando de bajuladores, incluindo o seu clube de amigos (MPLA), se transformaram em novos colonizadores. Ao implantar em Angola um regime baseado no assassinato, na mentira, prisões, perseguições, humilhação, intolerância, mortes, e uma corrupção cada vez mais assustadora chefiada pelo senhor. Aproveito para lhe perguntar como é que um mau carácter e corrupto do tamanho do senhor, tido como responsável pela grande disparidade, que aumenta cada vez mais entre os tantos pobres da minha terra e os poucos ricaços (na sua maioria seus familiares e amigos). Como pode ter um descaramento tal? Ser tão arrojado ao ponto de se dar ao luxo de pensar que pode dispensar-nos? Pelo contrário, deveria convidar, desafiando-nos para uma reflexão conjunta sobre várias questões que jamais serão prioridade do regime sob sua gestão... Porque a ordem, como tudo indica, é para roubar o mais rápido possível, perseguir, prender e matar tudo quanto seja contra. Ou será que o senhor perdeu noção do que diz, quando afirma que isto é normal, compreensível : isso é comportamento próprio de corruptos, ou então quem lhe escreveu o discurso não lhe foi bem explicito. É caso para repetir! Ainda bem que os angolanos nunca levaram muito a sério os discursos feitos pelo senhor que não têm passado de palavras ao vento. E é exactamente com este tipo de discurso que JES tem procurado esconder sempre o seu verdadeiro rosto evitando falar-nos dos seus assaltos aos cofres públicos. Da maldade que institucionalizou no país e porque razão nunca condenou uma única vez um corrupto ou assassino, e nunca repudiou qualquer assassinato de um seu adversário politico. Mas também com que moral poderia um presidente de um país, responsável pela falta de tolerância, fome, miséria e morte de tantas crianças, convidar essa mesma nação para uma reflexão? Quando esses males todos que essa nação vive são consequência directa dos actos praticados por este mesmo presidente e pessoas que o rodeiam? Senhor JES, aproveito dizer-lhe que os angolanos têm esperança e confiança sim num futuro melhor que passa pela alternância do poder. E que estão cansados de tanta demagogia falaciosa do senhor, e da colonização de bajuladores que chegam a considerá-lo como figura do ano. Apenas porque a sua estadia no poder garante a estabilidade financeira e o aumento de contas em bancos estrangeiros de toda essa corja que militantemente segue os maus exemplos do senhor e sua família. Também gostaria que soubesse que os angolanos igualmente ainda não perderam as esperanças e confiança em qualquer dia honrar os nomes de todas as vitimas do senhor e seu regime brutal. Pessoalmente não defino como presidente de uma república um homem com tão mau carácter como o senhor, que institucionalizou inclusive a maldade para satisfação das suas necessidades, negócios em nome dos seus filhos e para agradar a alguns estrangeiros que por enquanto o vão mimando. A nossa história nos ensina sim que nunca os angolanos viveram assim tão humilhados na sua própria terra e foram tratados piores que os cães de alguns semi-analfabetos que nunca se imaginaram um dia no banco dos réus. Se o senhor demagogicamente considera legítimo que cada angolano alcance um nível de vida digno, porque razão os manda arbitrariamente prender? E não raramente, até matar, professores, policias, bombeiros, antigos combatentes, jovens, funcionários públicos e outros, quando esses reivindicam os seus legítimos direitos? O senhor disse numa das suas passagens que com determinação, coragem, firmeza e grande vontade de vencer, os angolanos conquistariam a independência e a paz. Será que o senhor está lúcido do que diz ou o mandaram dizer? Será que paz para o senhor significa aprisionar até os tantos cadáveres e vitimas do seu regime que se recusa a entregar aos seus entes queridos para que sejam condignamente enterrados? Será que paz significa matar, mandar matar e deixar matar quem é da UNITA, FLEC, BD, PROTECTORADO, apenas porque não concordam com o senhor e o querem ver fora do poder? Se é legitimo que ninguém cruze seus braços porque se dão ao luxo de criarem uma espécie de esquadrão da morte e são treinados para torturarem? Sinceramente só me resta defini-lo como um dos piores demagogos que já conheci na minha vida, desde que nasci, há mais de 50 anos. Não posso definir como presidente da república alguém que não garante a estabilidade no meu pais, porque é falso, populista e mentiroso. Alguém que usa e abusa das leis constitucionais para tirar proveito próprio e partidário, que teme deixar o poder para não perder imunidade e ser forçado a prestar contas pelos crimes cometidos. Alguém que não tem consciência limpa não se pode sentir à vontade para punir com justiça os corruptos e os assassinos, nem condenar o vandalismo, o servilismo e a intolerância, qualquer que seja. Alguém que não utiliza critérios legais para fazer nomeações de figuras como ministros, Presidente do Supremo Tribunal, diplomatas, presidente da CNE. Presidente da república para mim tem que ser um homem livre, capaz de se comunicar com todos os angolanos sem olhar se são da UNITA / BD / FNLA, se são mulatos, pretos, brancos, sulanos, cabindas ou lundas, ou se são de origem cubana, chinesa, caboverdiana, santomense, portuguesa, sul-africana, acreditando ou não nas suas palavras. Nunca ouvi, uma única vez sequer, o senhor condenar um qualquer acto de agressão física ou moral contra os seus adversários políticos... como posso considerá-lo presidente da república? Se, quanto se sabe, o senhor odeia os antigos combatentes que foram da UNITA, FNLA e inclusive seus próprios camaradas que pertencem à linha do Marcolino Moco. E alguns têm desaparecido para sempre de forma estranha e duvidosa, enquanto suspeitos de saberem tanta coisa, que poderiam servir de trunfo para os considerados inimigos do regime. Sinceramente, fico pasmado como é que ainda há angolanos que se declaram aberta e publicamente como estando ao lado e partilhando das ideias do senhor. Como democrata devo aceitar isto? Mais : não me vou esforçar para perceber até aonde chegará a bajulação em Angola e qual o tamanho da falta de vergonha de certa gente. Numa linguagem simples, quero dizer : num país onde quase tudo é perverso, nada mais reina do que essa mesma perversidade.»

Esta carta (inserida nos comentários a este artigo), enviada de Berlim por Jaime Osvaldo Armando da Cunha, embora pareça actual, é de Janeiro do ano passado. Muitas coisas soam a premonitórias, demonstrando à saciedade que a eternização do regime, a falta de alternância, só poderão exacerbar cada vez mais o actual estado de coisas, piorando as condições de vida de todos os angolanos e de todas as angolanas. 

BES@-me mucho

Alerta SPORTING ! O «sobrinho» de José Eduardo já enterrou uma instituição portuguesa mais antiga que o vosso Clube. Aceitam-se apostas sobre quem irá agora enterrar primeiro: o tio dos Santos ou o menino Jesus... Até os cardos riem salgado! A factura do enterro? Mandem para Pequim!

A grande conspiração contra o povo do Burundi

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Burundi acaba de emitir um comunicado, no qual «deplora» a recusa da oposição em relação ao mediador proposto por Nkurunziza, descaradamente parcial a favor do Presidente e da sua inconstitucional ambição. O documento fecha com a hipocrisia total, ao afirmar «o empenho do governo do Burundi na condução do processo eleitoral da forma o mais óptima possível e nos limites da constituição em vigor». Mais óptima? Limites da constituição, depois de grosseiramente violada?

Que a Conferência dos Grandes Lagos esteja interessada em apoiar Nkurunziza, não admira, dado os Presidentes em situações homólogas, a começar pelo vizinho Rwanda, cujo hipócrita Presidente Kagame, igualmente obrigado pelo acordo de Arusha, pretende também atropelar a constituição e o seu povo para se eternizar no poder. Não esquecer outro vizinho, arqui-inimigo deste último (embora em concordância neste caso), igualmente começado por Ka - bila... E o maior apoiante deste último, José Eduardo dos Santos, que na reunião que convocou em Luanda da mesma conferência, agitou o espantalho da «desestabilização externa» para sugerir a constituição de uma secreta comum, dirigida pelo seu homem de mão, Miala.

Diz este artigo que não ficou claro quem sugeriu este nome como o «mais» indicado, ficando-se na dúvida se o próprio José Eduardo dos Santos, se a representante do Burundi... A mim palpita-me que foi o próprio. José Eduardo dos Santos está senil, com os pés para a cova, já não manda nada e exposto a um golpe dos seus próprios (envenenamento? - ninguém estranharia, diriam que foi uma dose mal calculada de fisioterapia): assiste-se já a uma luta pelo poder dos mais «espertos»... Este regime abominável sem o seu mentor só se pode tornar pior ainda, em todos os seus vícios, logo obrigatoriamente mais repressivo.

Da União Africana, que há muito perdeu a sua identidade, já tudo se pode esperar. Agora que o Conselho de Segurança das Nações Unidas vá na conversa, já custa muito mais a aceitar. Passando o irrelevante voto de Angola (que não tem condições para ser «potência regional», como pretende, segundo recente avaliação oficial dos Estados Unidos), como é possível trair um povo que, em peso, manifestou legítima e unanimemente a sua repulsa por um acto ilegal? Deixando-o às mãos sanguinárias de um detestável tirano?

Depois de silenciar todas as rádios não controladas, hoje, a televisão francesa foi obrigada a retirar do terreno, por lhe ter sido retirada a acreditação, sob pretexto que estariam a fomentar as manifestações. Depois, virão as lágrimas de crocodilo... chorando sobre o leite derramado. A única solução será abandonar o povo do Burundi à sua sorte?

Kofi Annan dá o alarme

I believe President Nkurunziza has lost his legitimacy and should step aside. Burundi needs to find a new leader for the country. What is happening could be tragic.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Elogio público

Quero fazer um elogio a Sonia Rolley, corajosa jornalista francesa da RFI, que acompanhou os protestos no Burundi, contra o terceiro mandato de Nkurunziza. Esses protestos foram curiosamente decididos a 25 de Abril, mantendo-se ininterruptamente até hoje. A Sonia foi afastada do cenário, decerto por superiores hierárquicos temendo pela sua vida (lembre-se que a RFI perdeu dois repórteres no Mali há bem pouco tempo), mas continua a acompanhar a situação pelo Twitter. Publicou agora um resumo áudio de seis minutos (em francês), o qual recomendo vivamente, com os momentos mais emocionantes dessa revolução popular em curso, até à «inventona» que serviu para queimar os verdadeiros patriotas no exército e a sua empatia com o povo.

Neste pequeno mas emocionante resumo, destaco o relevo dado ao papel das mulheres, a partir do 3'48''. Transcrevo o discurso galvanizador e cheio de firmeza, deixando transparecer a sua fúria e raiva, discurso verdadeiramente político (do qual o Presidente seria inteiramente incapaz pois enquanto mandava matar o povo na rua, fazia-se fotografar a jogar futebol, inteiramente equipado, para transmitir a ideia de tranquilidade) de uma anciã: «Queremos a Paz, o respeito pela Constituição e pelos Acordos de Arusha, que nos concederam a paz que tanto desejámos, depois de tanto sangue derramado e que continua a ser derramado». Uns dias depois, uma jovem manifestava a sua indignação pela actuação da Polícia, massacrando a jacto de água, gazeando a lacrimogéneo e assustando as mulheres com balas reais: «É uma vergonha! Viemos até aqui marchando pacificamente, somos mulheres "armadas" com lenços brancos. Há apenas mulheres e raparigas em toda esta multidão. Viemos exprimir pacificamente a nossa recusa do terceiro mandato, que está a violentar o nosso país»

Quando os homens tentam fazer a junção com as mulheres, no centro de Bujumbura, a notícia cai como uma bomba: o ex-chefe da secreta de Nkurunziza declara um «Golpe de Estado», aos microfones de uma rádio privada. A «inventona», oportunamente encenada para silenciar as rádios privadas, criou uma dinâmica revolucionária que assustou os próprios mandantes. O entusiasmo popular era contagiante: cantava-se o hino e os alegres slogans inventados na hora fazem lembrar o 25 de Abril. Para terminar, a Sónia escolheu as declarações de um manifestante empolgado, que traduziam perfeitamente o sentimento do povo: «Este é um dia inesquecível, que vai entrar para a história! É a primeira vez que o povo decide uma coisa e essa coisa se realiza. Foi o povo que disse não! Estamos fartos desse gajo!» Imagine-se que, a 25 de Abril, a Cavalaria 7 tinha obedecido à ordem de fogo? Solidariedade com o Burundi, onde o povo não larga a rua, apesar da repressão e das provocações e assassinatos evidentemente promovidos pelo odiado ditador.

Entretanto, no Rwanda, a máscara do Presidente parece ter caído: já tinha aqui realçado o seu papel dúbio na crise do vizinho, ao deixar Nkurunziza utilizar o seu território para chegar ao Burundi. Ontem, silenciou definitivamente a Rádio BBC. A oposição tenta prevenir o mais que óbvio aproveitamento político que este se prepara para fazer, baseado no precedente do seu parceiro: pretendem inviabilizar qualquer alteração constitucional que tolere o terceiro mandato de mais um candidato a usurpador. Os ditadores parecem estar a apoiar, de todas as formas, sob a vergonhosa passividade da comunidade internacional, o «abcesso de fixação» no Burundi, tentando evitar o efeito de contágio. No entanto, nesta era de novas tecnologias e internet, as pessoas já não dependem apenas dos mass media, facilmente manipuláveis ou silenciáveis. O povo rwandês, calejado pelo genocídio, saberá satisfazer o pedido formulado onomasticamente pelo ditador: Kagame! Ok, seja feita a sua vontade.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Evidentes sinais de desespero

José Eduardo dos Santos, desesperado para arranjar dinheiro fresco, tirou o dia para tratar do assunto. Como já deve ter percebido que os chineses não estão para ser chantageados (como costuma fazer com os corruptos vendilhões da soberania portuguesa), lançou também um apelo a Putin, tentando apostar nas rivalidades entre as duas potências emergentes... No entanto, não deverá ter mais sorte do que com os chineses, pois Putin também se encontra com graves dificuldades financeiras, pelas mesmas razões. Uma simples miragem, tal como a banana, que se pode ver na foto em cima da mesa, aos seus pés, que não passa do reflexo da catana.

Entretanto, o discurso atabalhoado do Governador do Banco de Angola, prometendo aumentar o número de leilões, embora não a quantidade de dólares (supostamente) vendida, com vagas e inconsistentes promessas de desafogo monetário a curto prazo, baseadas em premissas falaciosas, vem apenas reforçar a ideia de que se trata de uma despudorada manobra de contra-informação, para ocultar a banca rota iminente. A LUSA, como nos vem habituando neste caso em particular, cumpre um vergonhoso papel de voz do dono, não se percebendo como pode uma agência noticiosa estatal lidar com esta clara corrupção da mais óbvia verdade.

Efectivamente, com dois artigos perfeitamente redundantes, publicados em dois dias úteis consecutivos (passada sexta e esta segunda), temos gato escondido com o rabo de fora: para bom entendedor, basta reconhecer o tipo de jornalismo que enviesa sempre no mesmo sentido. No seu afã justificativo, o idiota que produziu a primeira notícia, nem sequer foi capaz de se reler e pelo meio de frases totalmente sem sentido, produz pérolas como «devido à projeção inicial macroeconómica devido à quebra na cotação do barril de crude no mercado inicial». O artigo resume-se a pura propaganda, repetindo a tanga do regime sem o mínimo espírito crítico.

A segunda notícia é do mesmo nível ou pior ainda, pois embora introduza alguns rearranjos, conserva as piores redundâncias do anterior (do devido «ao quadrado», até ao descomprimir, com e sem aspas, em sítios diferentes). As alterações são de «extrema» relevância: onde estava  «apontou o governador, em declarações aos jornalistas» pode neste encontrar-se «apontou José Pedro de Morais Júnior.» Onde era referido «para breve o anúncio de novas medidas» passa a ser referida a passagem de dois para três leilões semanais, embora essa já constasse igualmente do texto inicial. Mesmo muito mau, isto de copiar e colar o lixo já produzido...

A «flexibilização», ou «descompressão» do mercado cambial, é agora possível, segundo a LUSA, porque no OGE foi considerada uma cotação do petróleo de $40 e esta se encontra «estabilizada» nos $60. Ahahah. «Estabilizada»? Só se for no fim-de-semana, que separa os dois artigos, quando os mercados estão fechados! (ver gráfico na barra lateral à direita) [se assim fosse para que precisa tão desesperadamente do empréstimo dos chineses? não esquecer que, mesmo com o petróleo a $60, ainda está abaixo do custo de produção] Para além de desinformar, ainda pretende fazer futurologia? Para jornalista, não serve, talvez dê um bom bruxo ou adivinho.

Por outro lado, ao mesmo jornalista, parecem ter escapado as conclusões da 44ª reunião ordinária do Comité de Política Monetária, que surge na página do Banco de Angola logo por baixo do relatório semanal, e que comporta uma informação importante: apesar de a situação da Senhora Dona Maria Odete Patrocínio ter sido pontualmente resolvida, a banca continua a chular todas as outras pessoas em situação similar: ao longo do mês de Abril a banca forçou a conversão de 113 milhões de dólares em divisas, ao câmbio oficial, prejudicando largas dezenas de milhar de angolanos que recebem pequenas quantias para sua sobrevivência...

A favor de quem? dos poucos que usam o cartão no exterior, comprando as divisas à cotação oficial (a metade do valor real). Portanto, enquanto os pobres têm de comprar o Kwanza ao dobro do seu valor, os ricos compram o Dólar a metade do seu valor! Antes, o regime era comunista, havia a justificação «moral» para a repartição da fome... Em Inglaterra, ao tempo da visita do Rei Ricardo Coração de Leão, a Saladino, na Palestina, surgiu um revoltado contra o usurpador da terra, que ficou conhecido por roubar aos ricos para dar aos pobres. Já o Robin do Futungo, rouba aos pobres para dar aos ricos! No entanto, se não consegue rapidamente dinheiro...

Até os dóceis deputados já reclamam de salários em atraso.